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Bonga

Era o que Faltava

Temporada 3

11 novembro, 2021

Bonga

Fugiu da PIDE e foi o primeiro angolano a atuar no Coliseu dos Recreios. Bonga esteve no Era o Que Faltava com João Paulo Sousa e Ana Martins!

“Vocês não sabem o alívio que foi saber que estava safo”

Tem 50 anos de carreira, é um dos maiores embaixadores da música semba no mundo e foi o primeiro angolano a pisar a solo o Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Muitos já cantaram e dançaram ao som de músicas icónicas do artista como “Mariquinha” e “Olhos Molhados”. Bonga esteve no Era O Que Falta à conversa com João Paulo Sousa e Ana Martins.

No tempo em que era atleta (e que corria mais depressa que todos) era conhecido como “Barceló de Carvalho”, mas a fuga de Portugal, por causa da PIDE, fez-lhe arranjar um nome clandestino: Bonga Kuensa que significa “procura e baza”.

Diz orgulhosamente que cresceu na rua e que teve a educação da rua porque “em África, o pai do outro é teu pai também e o avô do outro é teu avô também”. O músico angolano explica que na terra Natal existe um enorme respeito pelos outros, sobretudo os mais velhos e reitera que a cooperação entre a comunidade é constante.

Anos mais tarde, veio para o Sport Lisboa e Benfica e para a seleção nacional onde as conquistas foram mais que muitas. Porém, a situação lusitana obrigou-o a fugir para Holanda, - “a polícia política era feroz!” - onde gravou o seu primeiro disco, com canções de intervenção, “Angola 72”. Bonga conta como (facilmente) conseguiu sair de Portugal: “Passei no aeroporto nas calmas, perguntaram-me onde é que eu ia e eu disse que ia ali comprar discos, volto já!” o artista acrescenta que “quando eu subi no avião fiz um manguito com a mãe fechada! Vocês não sabem o alívio que foi saber que estava safo”.

O cantor angolano, que vai estar no final do mês de novembro no Altice Arena e no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, confidencia que está muito desiludido com os intelectuais angolanos pois há “pessoas de fato e com gravata que ficam a vociferar contra a família” e explica que “há um tratamento exibicionista que não tem nada a ver com esta África profunda”. Bonga afirma que o verdadeiro angolano tem a sua vivência e que não a pode esquecer. O cantor fala em vivências como: “é o feijão do óleo de palma, é a muamba, é sentar na esteira com a avó, é tocar um instrumento típico tradicional”, é dançar as tradições.

O embaixador de Angola no mundo diz que “o quintal é muito mais importante que os prédios” porque “todos entram, muitos dos quais sem pedir licença” avançando que é lá que “estão os velhos a ensinarem-nos coisas que são as cosias mais importantes para a vida”. Este é o mote para o próximo álbum de Bonga “Quintal da Banda”.