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Dez grandes álbuns internacionais da década

Discos de Beyoncé, David Bowie, Kendrick Lamar ou Lana Del Rey entre os lembrados.

Dez grandes álbuns internacionais da década

Na continuação dos balanços da década que temos feito, e que pode consultar através da grelha de notícia relacionadas, selecionamos hoje dez dos muitos grandes álbuns internacionais que se lançaram ao longo dos 2010s. Esta escolha é evidentemente subjetiva e tenta ser a mais transversal possível.
 
PJ Harvey - "Let England Shake" (2011)
A grande camaleoa indie desencantou, com mais de 40 anos, a sua grande obra-prima. "Let England Shake" é um disco conceitual sobre os conflitos bélicos da sua Inglaterra, situado numa Terra de Ninguém entre trincheiras, entre rock e folk, entre o som etéreo dos Cocteau Twins e os ares rupestres das manas Shirley and Dolly Collins. Enquanto a Europa e Inglaterra se desmoronavam, PJ Harvey tinha voltado a encontrar um rumo. "Let England Shake" valeu-lhe o segundo Mercury Prize da carreira (o prémio de melhor álbum anual da música britânica), algo que nenhum outro artista tinha conseguido. 


  
Daft Punk - "Random Access Memories" (2013)
Numa década em que passámos a saber tudo sobre todos, é notável que uma dupla de fama mundial como os Daft Punk mantenha as suas imagens pessoais diluídas no anonimato, escondidos atrás de capacetes e das figuras de robots. O único álbum do projeto francês lançado este decénio consegue a proeza de um sucesso universal, que incluiu a liderança dos tops de todo o mundo (incluindo Portugal) e, ao mesmo tempo, o consenso elogioso da crítica. Junta-se a isto o merecido Grammy de Melhor Álbum do Ano. Com um elenco de colaboradores de luxo (Giorgio Moroder, Nile Rodgers dos Chic, o vocalista dos Strokes Julian Casablancas, Panda Bear dos Animal Collective, Chilly Gonzales), projetaram para este disco revivalista do disco-sound toda uma orgânica humana, como se houvesse uma banda funk por trás deste recheio orelhudo de electrónica


    
Run the Jewels - "Run the Jewels" (2013)
A vaga de três álbuns homónimos dos Run the Jewels marcou inegavelmente a década. O primeiro deles deixou logo bem evidente a complementaridade fortíssima entre os dois MCs, Killer Mike e El-P, neste hip hop de fluidez alucinante. 


 
Beyoncé - "Beyoncé" (2013)
A ambição profissional de Beyoncé de alta monta passou a englobar em definitivo a ousadia artística a partir deste álbum homónimo, de sonoridade tão contemporânea, com um r&b tão vivo quanto rico em detalhes. "Beyoncé" não seria a única grande obra da cantora norte-americana. O disco sucessor “Lemonade” foi outro desbravador de novos terrenos.

  
Lana Del Rey - "Ultraviolence" (2014)
Dúvidas houvesse sobre a consistência desta princesa indie no rescaldo do gangsta-pop de "Born To Die", essas dúvidas foram tiradas com este álbum bem menos óbvio mas que demonstra a força resistente de uma ideia: o contraste de luzes entre o glamour hollywoodesco e a sombra da errância e da solidão num conjunto de canções esmagador. E houve continuidade subsequente. Lana Del Rey é dona de uma das discografias mais fortes desta década. 

 
The War on Drugs - "Lost in the Dream" (2014)
Este é o disco que fez a banda de Adam Granduciel dar um salto gigante para a primeira divisão do rock alternativo. Melodias apelativas e longos fade out fazem parte do mesmo disco, onde guitarras elétricas desprendidas, sintetizadores, um saxofone e a voz charmosa de Granduciel se contagiam – e nos contagiam. Sempre que nos quisermos lembrar de um clássico rock desta década, este é um dos discos.

   
Sufjan Stevens - "Carrie & Lowell" (2015)
As memórias bem vivas do banjoísta norte-americano, misturadas com uma ficção etérea e às vezes mitológica, ganham neste álbum um significado especial, dedicado à mãe falecida com quem mal esteve ao longo da vida. "Carrie & Lowell" ronda mais a imaginação de Sufjan Stevens do que lhe faltou do que as memórias do pouco que teve da progenitora, sem a exuberância electrónica de "The Age of Adz" e sem a pompa orquestral de alguns trabalhos precedentes. Os instrumentos aqui aparecem quase à vez como se tivessem medo de se atropelar: um dedilhado dócil do fiel banjo, depois um piano sorrateiro, uma pequenas achegas da guitarra pedal steel, uma outra guitarra eléctrica a derrapar para um belo precípicio, a sós com o canto murmurado de Sufjan Stevens. E depois a transcendência. Carrie & Lowell é um dos mais belíssimos discos folk deste século. 

 
Kendrick Lamar - "To Pimp A Butterfly" (2015)
Um dos maiores rappers da sua geração, um dos maiores do hip hop de sempre, um dos maiores. Kendrick Lamar já tinha abanado a música com o álbum de 2012, "Good Kid, M.A.A.D City", mas em 2015 veio um terramoto chamado "To Pimp A Butterfly", um autêntico de museu de música norte-americana que vai do hip hop ao jazz, da soul ao avanta-garde. Mas Kendrick Lamar não se ficaria por aqui. 


David Bowie - "Blackstar" (2016)
No dia em que fez 69 anos, a 8 de Janeiro de 2016, David Bowie lançou o álbum “Blackstar”, mais filiado no jazz e bem apropriado pela sua personalidade. Dois dias depois, a 10 de Janeiro de 2016, David Bowie perde a sua luta contra o cancro, depois de 18 meses de sofrimento. Depois de ter encarnado tantas personagens, a figura moribunda do álbum “Black Star” era afinal o próprio David Bowie, que se estava a despedir de nós. E com que classe!

 
Nick Cave & The Bad Seeds - "Ghosteen" (2019)
Este é o primeiro disco feito de raiz depois da morte de Arthur Cave, caído numa falésia em 2015, quando tinha 15 anos de idade. Ele é o "Ghosteen", o fantasma adolescente que ilumina e atormenta todo este disco duplo de 11 faixas. O que sobressai em "Ghosteen" é um grande peso recorrente de luto, do manto lamuriento dos coros, como se fosse a choro das viúvas dos pescadores na hora matinal da má nova. O sofrimento de alma de Nick Cave está também traduzido em falsetes que finalizam canções nos esforços derradeiros, como pedidos de redenção. Este é mais um álbum de Nick Cave & Warren Ellis do que propriamente um disco de Nick Cave & Bad Seeds. É na comunhão entre Cave e o seu fiel escudeiro e diretor de banda que está muita da força brutal deste disco.

 

Artigo de opinião.