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Diabo na Cruz: "quisemos fazer um disco conceptual"

O novo álbum "Lebre" sai hoje para as lojas, o que merece uma entrevista a Jorge Cruz.

Diabo na Cruz: "quisemos fazer um disco conceptual"
Joana Linda

O neologismo de folque-roque é ainda mais bonito quando cantado e tocado pelos Diabo na Cruz, o sexteto de solidez granítica embelezado pelo imaginário cancioneiro de Jorge Cruz, o seu líder e compositor - e o entrevistado deste artigo [o terceiro na foto a contar da direita].

Depois de mais de quatro anos de seca, as saudades por um novo disco podem ser matadas gulosamente a partir de hoje, com "Lebre", colheita de canções apanhadas num bosque bem português e fantasmagórico, com ecos da Banda do Casaco e de outros que inventaram um território enorme entre o campo e a urbe, entre "Braga e Nova Iorque", entre Trás-Os-Montes e Manchester. Ou no caso dos Diabo na Cruz, entre os Gaiteiros de Lisboa e os Strokes, entre muita coisa e muita outra coisa.

Campeões dos palcos e do asfalto, também se enfiam por caminhos de terra batida, onde gostam de se perder. Por pradarias, encontraram a mitológica "Lebre", o quarto álbum do grupo, com letras que parecem uma reflexão sobre o trajecto da banda. E às vezes parecem lemas : "cada dia mais forte" na faixa de abertura 'Forte', "ainda a procissão vai no adro" no tema 'Procissão'. "Há uma pausa de dois anos. Houve dois anos para cozinhar o disco, de 2016 até agora", enquadra-nos o guia espritual do grupo, Jorge Cruz.  E o interregno é também ao vivo. Os Diabo na Cruz não tocam ao vivo desde "29 de setembro de 2016". Mas a engrenagem vai ser ligada nos coliseus de Lisboa e Porto, respetivamente a 15 e 22 de novembro, e depois, em 2019, ninguém os parará pelo país fora.


Em Lebre, os Diabo na Cruz preocupam-se menos com o sarcasmo em relação a alguns meios urbanos, preferindo uma guinada para o interior, da alma ou do país, ou de ambas as coisas. "O nosso terceiro disco era bastante mais urbano, com piadas ao Maria Matos e aos hipsters. Este disco preocupa-se pouco com isso".


A ligação às raízes e à terra inspira uma banda rock a uma nostalgia, por vezes de um tempo desconhecido como os Sétima Legião. No caso dos Diabo na Cruz, ou de Jorge Cruz, a viagem no tempo pode ser à sua infância, com cheiro a maresia, sons de ondas agrestes e vistas de "traineiras", como na canção 'Terra Natal': "esse tema é mais nostálgico porque o disco tinha uma pretensão conceptual, à procura de um conceito, a ideia de pertencer a algum lado, onde é que é a casa. O 'Roque da Casa' termina com 'Só não tenho sítio a que chame casa'. Depois toda a ideia de mãe, pai, filho, família que existe no álbum. E acabar com uma música chamada 'Portugal'. É a pergunta que faço: até que ponto esta pode ser a minha casa nos tempos modernos e globalizados, em que mora gente de todo o mundo, em que isto está a mudar constantemente?". E Jorge Cruz reforça: "se calhar, é preciso fazer uma música em que eu consiga lidar com a minha origem": a zona de Aveiro e a sua incontornável costa.

 

Em "Lebre", não se sente apenas uma nortada celestial. Há também o bafo infernal de 'Terra Ardida'. "O rastilho foram os incêndios, mas não estes [do ano passado]. O problema já existe há imenso tempo. A canção já tem cinco ou seis anos e foi feita para o Roque Popular, o nosso segundo disco, e na altura ficou de fora porque tínhamos feito quarenta a cinquenta músicas, nem todas terminadas. A letra [de Terra Ardida] foi retocada e remexida para se adaptar a este disco. Na altura foi inspirada no drama dos incêndios, em particular um que aconteceu em Tavira, em que ardeu a serra toda, desde o Alentejo até ao mar, que foi altamente chocante. Fiz uma viagem de 40 quilómetros, a ver a serra queimada".

Os bilhetes para o concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a 15 de novembro, custam 15 euros; para a atuação no Coliseu do Porto, a 22 de novembro, os preços variam entre 15 e 17,50 euros.