Ainda não tem a nossa APP? Pode fazer o download aqui.

Gigantes do rock: cinco por instrumento

No Dia Internacional do Rock, selecionamos os melhores executantes deste género (tão) elétrico.

Gigantes do rock: cinco por instrumento
Associated Press (arquivo de 1985)

Depois de no ano passado termos aproveitado o Dia Internacional do Jazz para destacar cinco dos melhores músicos em cada instrumento nesse género centenário, aproveitamos hoje o Dia Internacional do Rock, para repetirmos o mesmo modelo. Mas a escolha foi tão difícil, que não resistimos em fazer uma lista de reservas de luxo.

Voz
O furacão Elvis Presley não era só corporal, era também vocal. Os abanões de anca não afetavam o canto e até pareciam corda para a sua voz, pronta para as diabruras rockers, ou para a gentileza baladeira. 
Outra voz possuída do rock também vinha do berço dos blues, falamos de Janis Joplin, o grande ícone rebelde feminino dos anos 60, capaz de subir e descer as maiores ravinas. 
Freddie Mercury, dos Queen, tinha uma musicalidade operática assinalável, com um poder de alcance que o permitia reinar onde quer que atuasse. Puxava a voz até onde queria e quando queria, com uma omnipotência luxuosa.  
A expressiva Kate Bush é outra cantora colossal da história do rock (e da pop), com uma elasticidade camaleónica, que lhe permite incorporar as mais diversas personagens, ora a frágil donzela (optando pelos agudos), ora a bruxa assustadora (mostrando os seus graves). 
A versatilidade de Mike Patton, dos Faith No More (e dos Mr. Bungle, dos Fantômas e dos Tomahawk) é também estonteate. Uma só pessoa consegue ser cantor lírico e um vocalista dos meandros metaleiros no segundo seguinte.
Outras vozes especiais: Tina Turner, Rod Stewart, Tom Waits, Michael Stipe (R.E.M.), Björk , Thom Yorke (Radiohead), ou Jeff Buckley.

 

Guitarra
Um dos pontes fortes dos Rolling Stones é o jogo de guitarras eléctricas, que tem como um dos elos e responsáveis o fundador Keith Richards. O Pelé da guitarra elétrica é o canhoto Jimi Hendrix, um malabarista e um génio em bruto, que incendiava o instrumento metaforicamente, antes mesmo de o queimar na prática. Outro talento à escala mozartiana mas no instrumento de seis cordas é Jimmy Page, que começou por se destacar nos Yardbirds e tocou no teto do paraíso nos Led Zeppelin. O jeito vocal de Prince e a sua aptidão para dançar não conseguiam distrair-nos dos seus solos magistrais na guitarra elétrica. Já a coolness dos Smiths tem uma grande dívida de gratidão para com a forma de tocar guitarra de Johnny Marr, com uma visão musical global de arranjador e um fino gosto. Nunca mais Morrissey foi o mesmo, ele sem Marr é como Sansão sem cabelo.

Outros mágicos das seis cordas: Pete Townshend (The Who), David Gilmour (Pink Floyd), Mark Knopfler (Dire Straits), Thurston Moore (Sonic Youth), Jack White (White Stripes), John Frusciante (Red Hot Chili Peppers), ou Tom Morello (Rage Against the Machine).

 

Baixo
O baixo de esquerdino de Paul McCartney empurrava os Beatles para as grandes canções, às vezes de forma mais subtil, outras vezes de forma mais evidente, como o caso de 'Come Together'. De forma acidental (porque não conseguia ouvir o instrumento), a necessária amplificação do baixo de Peter Hook tornou-se num som de marca dos Joy Division, que se estenderia para os New Order. Apesar de rodeado de grandes instrumentistas, como nos Police, e mesmo que comprometido em cantar, o baixo de Sting destacava-se com personalidade e elegância. Cheio de funk está o baixo do carismático Flea, que ajuda a fazer dos Red Hot Chili Peppers uma das melhores bandas rock do mundo. A inventividade de Mark Sandman era também de engenhocas, tendo criado o seu próprio baixo de duas cordas, que conduzia a música dos Morphine e assumia protagonismo, num trio sem a concorrência da guitarra elétrica (o que elevava mais a grandeza do baixo).

Outros baixistas influentes: Lemmy (Motörhead), Bernard Edwards (Chic), Robbie Shakespeare (Sly & Robbie), Tina Weymouth (Talking Heads), Mike Watt (Minutemen), Jason Newsted (Metallica), ou Kim Deal (Pixies).


Bateria
Keith Moon (The Who) a tocar bateria dava a ilusão ótica de ter quatro ou seis braços. O músico inglês era uma fera nos tambores. Já Moe Tucker, dos Velvet Undeground, era mais dócil, imprimindo um estilo diferente, mais feminino e cadenciado, utlizando muitas vezes baquetas de pontas de feltro (que se usam em gongos). Se os Velvets tiveram um som muito deles, Moe Tucker é uma das principais culpadas. 
Antes de Phil Collins passar a ocupar a frente de palco nos Genesis, era um baterista bastante requisitado e credenciado. E mesmo com carreira principal como cantor, nunca abandonou a bateria, fazendo os seus solos e baqueteando enquanto cantava os seus êxitos. Outro homem da frente de palco que nunca largou o seu anterior ofício junto do kit de tambores é Dave Grohl, líder dos Foo Fighters, que se destacou como o baterista pujante dos tempos áureos dos Nirvana. Não poderia faltar nesta seleção um baterista no mundo do metal e um dos mais respeitados nesta área é Dave Lombardo, que nos Slayer mostrou ter nos braços e nas pernas um autêntica artilharia que parecia um contingente de metralhadoras a serem disparadas.
Outros super-heróis das baquetas e dos pedais: Ringo Starr (The Beatles), Charlie Watts (Rolling Stones), John Bonham (Led Zeppelin), Tony Allen, Tommy Ramone (The Ramones), Stewart Copeland (The Police) e Jimmy Chamberlin (Smashing Pumpkins).

 

Teclas
Jerry Lee Lewis tirou toda a formalidade ao piano, levando para o instrumento o bicho-carpinteiro do rock & roll, não parando quieto no banco, levantando-se muitas vezes, mas sem nunca perder a agilidade, conciliando velocidade com precisão. Com dois teclados à sua frente, um de um piano outro de um órgão, Ray Mankarek deu um som distinto aos Doors, assumindo a função rítmica do baixo e ao mesmo tempo fantasiando viagens melódicas deslumbrantes, com uma veia do jazz. Stevie Wonder é dos teclistas mais completos da música. O seu imenso talento instrumentista permite-o tocar tando piano, como sintetizadores, melódica ou órgão. Como teclista, sabe tão bem agitar ritmos, como ambientar-se em baladas.
Se a banda mais revolucionária de synth-pop dos anos 80 foi os Depeche Mode, o seu músico mais revolucionário foi Alan Wilder, o membro que melhor dominava as imensas potencialidades dos sintetizadores no interior do quarteto inglês. Excutante primorosa com pedalada erudita, Tori Amos também quebrou o status quo formal do piano, tal como Jerry Lee Lewis. Mas Tori Amos vai ainda mais longe na expressão dramática.  
Outros mestres das teclas: Ray Charles, Joni Mitchell, Elton John, John Cale (Velvet Underground), Richard Wright (Pink Floyd), Keith Emerson (Emerson, Lake & Palmer) e Dave Greenfield (The Stranglers).

 

Outros Instrumentos
Bob Dylan criou um estilo com a harmónica montada junto aos beiços, que fez a sua imagem de marca e influenciou um estilo, seguido por outros cantores. No saxofone, houve vários gigantes no rock, como o caso de Clarence Clemmons da E Street Band de Bruce Springsteen. Um homem que é em si mesmo uma orquestra e uma banda numa só pessoa é Warren Ellis, o diretor da formação de Nick Cave, os Bad Seeds, que se destacou primeiramente - e ainda se destaca - como um violinista de primeira classe. Na ainda mais complexa harpa, o mundo da folk-rock tem podido contar com a imensa senbilidade táctil da cantora Joanna Newsom. No mundo eletrónico do dee-jaying e dos samples, um dos grandes instrumentistas é Geoff Barrow dos Portishead, que deu ao trio de Bristol os sons mais invulgares.
Outros instrumentistas de excelência: Andy Mackay (saxofonista dos Roxy Music), Andy Diagram (trompetista dos James), Zach Condon (trompetista dos Beirut), DJ Hurricane (DJ ligado aos Beastie Boys), Dickon Hinchliffe (antigo violinista dos Tindersticks), Arthur Russell (violoncelista) ou James Fearnley (acordeonista e mandolinista dos Pogues).