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Coletividades sem atividade procuram alternativas para evitar despedimentos

Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto enviou lista de propostas de medidas para o setor.

Coletividades sem atividade procuram alternativas para evitar despedimentos
LUSA

Mais de 33 mil associações e coletividades que movimentam três milhões de associados procuram formas alternativas de financiamento para fazer face à suspensão das atividades durante a pandemia e evitar o despedimento de milhares de trabalhadores.

De portas fechadas desde a declaração do estado de emergência, em 18 de março, a Sociedade de Instrução e Recreio "Os Pimpões", nas Caldas da Rainha (distrito de Leiria), apostou em aulas 'online' para manter ativos os seus associados.

Os dois programas "Pimpões ativo" (com aulas de Zumba, Pilates, Treino Funcional, Fit 30, Hiit, Ginástica Sénior, Minibasquete e Hip-Hop) e "Multi em Casa" (atividades de tempos livres de Páscoa) foram disponibilizados gratuitamente. Mas, num comunicado aos sócios, a coletividade apelou a que aqueles que quisessem mantivessem "o pagamento de pelos menos 50% do valor das mensalidades", para ajudar a suportar as despesas com os colaboradores em teletrabalho.

"Tivemos uma adesão muito significativa, com pessoas a pagarem os 100%, outras a pagarem 50% e algumas, também, a preferirem não pagar nada", disse à agência Lusa Susana Chust, presidente da coletividade, que movimenta mais de 2.000 pessoas a praticar atividades e cerca de duas centenas de atletas em competição.

A verba "é uma ajuda para manter as atividades 'online'", mas fica aquém das despesas fixas, que, além da água e da eletricidade, englobam a manutenção da piscina e das despesas com os ordenados dos 18 trabalhadores (alguns em 'lay-off'), orçadas em mais de 15 mil euros líquidos mensais.

Outras, como a Sociedade de Instrução e Beneficência "Voz do Operário", em Lisboa, fecharam portas e suspenderam todas as atividades e fontes de receita, olhando com "muita preocupação" o futuro de quem tem de garantir "260 mil euros de ordenados a cerca de 250 trabalhadores, entre administrativos, técnicos e professores", afirmou o diretor-geral da instituição, Vitor Agostinho.

"Assegurámos os ordenados em março e abril, mas sem as atividades, o fornecimento de refeições, espetáculos e cedências de espaços não vamos conseguir manter as despesas com sete edifícios e pessoal", acrescentou, admitindo que a coletividade "irá deparar-se com problemas graves se não houver apoios do Governo ao setor".

Isso mesmo já fez saber ao Governo a Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD), que em 02 de abril enviou à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, uma proposta de medidas específicas para o movimento associativo popular: o apoio das autarquias às coletividades com uma verba de mil euros mensais para despesas fixas, uma linha de crédito com juros suportados pelo Orçamento do Estado e o suporte, pelo Estado, do pagamento integral do 'lay-off' dos trabalhadores das coletividades.

Em causa estão "33.300 coletividades, geridas por 425 mil dirigentes e que movimentam três milhões de associados que, na conta satélite da economia social, têm um peso de 51%, superando as mutualidades e misericórdias", disse à Lusa Veladimiro Matos, da direção da confederação.

Veladimiro Matos sublinhou ainda "a importância comunitária" das associações, que "em muitos locais do país garantem o acesso a atividade física, a aulas de música e eventos culturais a que de outra forma muitas pessoas não poderiam aceder".

Mas, apesar do peso do setor e das dificuldades, referiu, "o Governo não está a dar respostas a estas entidades, que em muitos casos têm respondido à crise cedendo espaços para instalar hospitais de campanha ou com ações de solidariedade".

Sem soluções para fazer face às despesas, teme-se, sobretudo, "o risco de despedimento de muitos trabalhadores" em todo o movimento associativo, suspenso, à espera de que "os governantes ouçam as suas preocupações".

Mas, "o movimento associativo é resistente, resiliente e necessário", sublinhou Veladimiro Matos, convicto de que, apesar das dificuldades e apoiadas pela confederação, "as coletividades vão encontrar uma forma de dar a volta às dificuldades".