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James Blunt sobre o novo álbum: "É uma celebração da vida em geral"

A Patrícia Pereira conversou com o músico britânico sobre "Once Upon a Mind" e não só, até a atriz Carrie Fisher foi tema de conversa. Blunt voltar a Portugal em junho. O concerto será no dia 9, no Campo Pequeno, em Lisboa.

James Blunt sobre o novo álbum: "É uma celebração da vida em geral"
Foto promocional

 

Depois de 5 anos sem ver o público português, James Blunt vai voltar a Portugal em junho. O reencontro está marcado para o dia 9, no Campo Pequeno, em Lisboa. O músico britânico vai subir ao palco da sala lisboeta para apresentar "Once Upon a Mind", o disco que editou no ano passado. 

O novo álbum talvez seja um dos mais pessoais de Blunt. A canção 'Monsters', por exemplo, foi composta depois do músico de 'You're Beautiful' saber que o pai, Charles Blunt, sofria de uma doença renal que pedia um transplante urgente de rim. A procura por um dador compatível levou-o, inclusivamente, a expor a situação no programa britânico Good Morning Britain, um desabafo que comoveu o Reino Unido e despertou-o para a questão da doação de órgãos. 

Charles Blunt já foi operado e correu tudo bem, mas a consciência repentina da mortalidade do pai tornou-se algo que James Blunt precisava de exorcizar no resguardo da composição. O cantor britânico teve de ajustar-se à temível inversão de papéis entre pais e filhos, ao mesmo tempo que se ia ajustando à rotina mais feliz da paternidade - realidade familiar que também está neste disco.

Na conversa com a Patrícia Pereira, Blunt também falou da relação de amizade que manteve com a atriz norte-americana Carrie Fisher durante o período em que esteve a viver, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A atriz, a eterna Leia do clássico Star Wars, não só acolheu Blunt, como foi o ombro amigo do músico que, na altura, estava a trabalhar no disco de estreia "Back to Bedlam". Era a sua "mãe americana", como ainda hoje a descreve, com carinho e saudade.  


Como é que o estado de saúde do seu pai influenciou este álbum?


Quando nos apercebemos da mortalidade dos nossos pais, há uma grande viragem na forma como entendemos e nos posicionamos na vida. Há um capítulo que se fecha e outro que se abre. É o momento em que percebemos que não vamos ter aquelas mãos a guiar-nos para sempre. É uma mudança estranha do lugar que ocupamos no mundo. Escrevi sobre isso em algumas canções, mas, ao mesmo tempo, os meus filhos nasceram, o que me pôs perante a ideia de "círculo de vida". Estava ali, à minha frente. É sobre esse ciclo que tenho estado a escrever. No meu primeiro disco escrevia sobre mim, como indivíduo, e sobre o meu lugar no mundo. O disco "Once Upon a Mind" é sobre o meu lugar entre as pessoas que me são próximas. É sobre a importância dessas pessoas, mais do que a minha.
 



Ia perguntar isso mesmo, como é que ser pai influenciou o seu processo de escrita. Há alguma canção dedicada aos seus filhos? 

Há uma, 'I Told You', que é uma mensagem para eles. No momento em que percebi que já não tinha muito tempo com o meu pai, também percebi que não passo o tempo que gostaria com os meus filhos, sobretudo por andar em digressão. Chego a estar fora 18 meses de cada vez. Senti que precisava de escrever uma canção para eles, caso não voltasse a casa. Há outra canção que escrevi com a intenção de inspirá-los. Para que sejam sempre o melhor que conseguirem. É a última canção do disco. Chama-se 'The Greatest'.

É um assunto pesado, mas, quando estamos a ouvir o disco, não sentimos esse peso, é uma experiência até uplifting

Espero que sim. É uma celebração, não só da vida deles, mas da vida em geral. Apesar de saber que o tempo que tenho com o meu pai está cada vez mais curto, também sei que o tempo que ainda temos juntos é para celebrar.  

Vi um vídeo onde explica este disco, canção a canção. Fiquei a saber que o vídeo que ilustra 'Cold' é uma sequela do vídeo feito para o tema 'You're Beautiful' e que teve o cuidado de usar as mesmas roupas em ambos. Também diz que voltou ao lugar onde começou e que, neste momento, sente-se livre outra vez. O que é que mudou e em que sentido é que se sente livre novamente?


Acho que este álbum acaba por ser a sequela do disco "Back to Bedlam" [álbum de estreia onde está o tema 'You're Beautiful']. Nessa altura, como não tinha noção de quem ouvia a minha música e as minhas canções, escrevi-o em absoluta liberdade e sem quaisquer filtros. Com a experiência de somar cinco discos, ganhei uma maior consciência do público, da indústria musical e da crítica - a boa e a má - o que fez com que fosse mais contido na composição. Neste último álbum, senti que estava novamente a escrever com uma grande sensação de liberdade, simplesmente porque estava a escrever para as pessoas mais importantes da minha vida. Não estava a fazê-lo apenas para o público ou para a indústria. Compus pela necessidade real de escrever para os meus filhos, para o meu pai e para a minha mulher. Fi-lo com uma sensação de urgência, sem filtros e sem medo. Com a mesma liberdade que senti no primeiro disco.
 



Está a criar música da mesma forma como compôs para o primeiro álbum, mas agora sem a presença de Carrie Fisher que, como disse em algumas entrevistas, foi o seu anjo da guarda na criação desse disco. Esteve consigo, apoiou-o nessa altura. Sei que voltou a Los Angeles quando a Carrie Fisher morreu, certo?

Fui em vigília. Estive lá, com as minhas mãos no portão, para dizer-lhe adeus. A uma dada altura, passou um autocarro com turistas e ouvi o guia turístico dizer: 'esta é a casa da Carrie Fisher e ainda há fãs que tentam lidar com a sua perda'. Disse aquilo sem perceber que era eu que estava ali, a chorar no portão.

Era muito importante para si…

Continua a ser. Los Angeles já não é a mesma cidade para mim, nem sinto vontade de voltar. Antes sentia que Los Angeles era a minha casa, agora percebo que só sentia isso porque era onde ela estava. 

A história que tem com a Carrie Fisher é incrível e muito comovente…

Sim, o que adorava nela é que era uma pessoa com falhas e imperfeições, mas usava-as de uma forma inspiradora. A vida pode ser muito aborrecida, se seguirmos apenas o caminho que nos está destinado. Ela percebeu que podia usar os problemas a seu favor. Deu voz ao twist na forma com que via o mundo e isso inspirava as pessoas. A perceção que tinha do mundo era diferente. Não era uma pessoa tão forte como a viam, até era um pouco frágil, mas não tinha vergonha nenhuma em mostrar essa fragilidade.
 



Agora, entrando num assunto mais leve. A internet atribui-lhe a seguinte citação: "sei que sou uma estrela pop, mas às vezes gostaria de ser uma estrela rock". Com o disco "Once Upon a Mind", sente-se uma estrela country? É que há uma vibe folk em algumas músicas do disco… 


(risos) Talvez tenha razão. No meu primeiro álbum, o tema 'So Long, Jimmy' já tem esse toque country. O 'Miss America' [do disco "Moon Landing"] também. Talvez essa influência venha do facto de ter trabalhado com [o produtor] Tom Rothrock que tem tido um papel fundamental na minha carreira. Gostei de compor este disco com esse toque ao estilo mais country porque é uma ótima forma de contar histórias.

Também lançou o tema 'Halfway' com um duo country…

Sim, com as Ward Thomas que agora andam em digressão comigo. Creio que um dueto fazia todo o sentido neste tema, começando com o título. Quando o escrevi, senti logo que tinha de ser um dueto. Estou muito feliz de ter feito isto com elas. A vida de estrada juntos tem estado a ser muito divertida.

Por falar em digressão, como é que se costuma preparar para um concerto?

Não faço nada de especial. Escolho a roupa mais indicada, certifico-me que o fecho das calças está apertado e subo para o palco. Agora, consigo estar mais relaxado com a ideia de tocar ao vivo. Tenho uma banda fantástica. Cerca de meia hora antes do início do concerto, encontramo-nos no camarim, para termos a certeza que estamos todos acordados e prontos.

Os concertos têm tido excelentes críticas. O que é que podemos esperar do concerto no Campo Pequeno, em junho?


Vou levar a minha banda. Vou levar música nova, fantástica e energética. E vou levar os hits, as canções que as pessoas conhecem e ouvem na rádio. Mal podemos esperar por voltar a Portugal, sempre que estivemos aí foi divertido.