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Lulu Santos: "os radicalismos atraem-se"

O músico brasileiro atua hoje no Coliseu do Porto e amanhã no Coliseu de Lisboa.

Lulu Santos: "os radicalismos atraem-se"
Leo Aversa
Lulu Santos tem uma longa carreira, um reportório robusto e um conjunto assinalável de grandes momentos ao vivo. Mas nunca tinha dado concertos em nome próprio no país da sua ascendência familiar, Portugal.
 
Lulu Santos vai resolver essa falha, com espetáculos hoje no Coliseu do Porto e amanhã no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Para esclarecer tudo isso e muito mais, falámos com o músico por telefone.
 
O que é que podemos esperar dos concertos do Lulu Santos no Porto e em Lisboa?
Atuei aí uma vez mas para uma coisa curta, de 50 minutos, para um festival da Galp Energia. Lembro-me de que estavam a gostar muito do que eu estava propondo, que é o que espero que aconteça mais uma vez. É a primeira que vou aí apresentar o meu espetáculo individualmente de forma integral. O que desejo é que vocês apareçam e nos venham conhecer. Claro que a comunidade brasileira também vai estar presente. Para os portugueses, tudo vai ser descoberta, igualmente para mim, do ponto de vista do show. Este vai ser o nosso primeiro grande encontro.
 
Quando esteve em Portugal, que impressões teve do país?
Assim que pisamos o território, descobrimos coisas acerca de nós próprios. Sou de descendência portuguesa, o meu nome é Santos. As pessoas pareciam minhas parentes porque tinham expressões faciais parecidas. Houve uma época em que eu trocava a viagem a outros países para estar um tempo em Lisboa, onde cheguei a passar 15 dias. Depois fui para o interior e para o norte. Fui de carro de Lisboa até ao Porto.    
 
O público português conhece-o sobretudo através das músicas para as novelas. Como é que funciona esse trabalho com a televisão? São as produtoras que lhe encomendam músicas? É o Lulu que sugere?
Há 30 anos eu já tinha feito esse trabalho de produtor de novela. Pouco antes da minha carreira começar, por volta da década de 70, eu estava casado com uma senhora [a atriz Scarlet Moon], tive filhos com ela, e eu precisava de arranjar um emprego. O emprego que consegui foi o de seleccionador de músicas para novela, ao serviço da Som Livre, a editora da Globo. Durante algum tempo, fiz esse trabalho. Na verdade, a indicação dos artistas para as bandas sonoras das novelas é feita pela editora. Uma pessoa de dentro, como eu, apenas precisa de juntar o número de canções viáveis para cada um dos personagens alinhavados no guião que nos é entregue. Essa lista vai para o realizador da novela que escolhe as músicas mais apropriadas. Não é o artista mas sim a editora que faz essa conexão. 
 
O Lulu Santos regressou agora ao Rock in Rio. Sensibilizou-o ter tocado para uma multidão tão grande?
Foi especial. Foi a minha quinta participação no Rock in Rio. Agora voltei para o que eles chamam de Palco Sunset que é o palco dos encontros, onde dividi uma parte do meu show com o Silva, que se tem apresentado em Portugal com alguma frequência. 
 
O Lulu Santos lembra-se bem do concerto no Rock in Rio de 1985, frente a mais de cem mil espectadores?
Lembro-me melhor deste último concerto no Rock in Rio, onde também tinha à minha frente 100 mil pessoas. Apesar de ser num palco mais intimista, tínhamos à nossa frente 50 metros de público num descampado enorme. 
 
Sente que o Brasil deu um passo atrás com o Bolsonaro no poder?
O país fez uma escolha. A escolha eleitoral é sempre legítima. Resta saber o quanto positiva vai ser essa escolha para o país. Não vejo que esteja a ser positiva.
 
Neste seu último álbum, "Pra Sempre", o Lulu expõe a relação com o seu marido. Isso tem um significado especial, numa altura em que é Presidente do Brasil um homem conotado com a homofobia como Bolsonaro?
Face às circunstâncias, acaba tendo essa dimensão de uma forma de resistência. Por outro lado, foi feito com muita naturalidade, independentemente da circunstância em volta. Vi um documentário há pouco tempo no Netflix sobre a feitura de um álbum de John Lennon, pouco tempo antes de ser assassinado. Há lá um pensador, Tariq Ali, que diz que movimentos de radicalização acabam puxando o movimento contrário. É isso o que está acontecendo no Brasil.
 
O Lulu é um romântico. O Cazuza dizia mesmo que o Lulu Santos e ele próprio eram os maiores românticos do Brasil.  
Eu cantava o amor que dava certo e ele o amor que dava errado. É uma generalização. O Cazuza era engraçado, ele tinha o direito de dizer essas coisas. É um pouco isso. É engraçado ter essa definição vinda da cabeça do Cazuza. 
 
O que conhece da música portuguesa?
A Eugénia Melo e Castro e a Carminho costumam vir muito ao Brasil. Tive um contacto pessoal com o Rui Veloso, com quem dividi um espetáculo por ocasião dos 500 anos das descobertas. Estamos a tentar colaborar com o rapper Jimmy P, vamos ver se isso acontece. No mesmo dia em que toquei no Rock in Rio, houve um concerto d’O Terno  que estava tocando com os Capitão Fausto. Se não me engano, no penúltimo Rock in Rio, tivemos Titãs com Xutos. 
 
Gosta de fado?
Não sou um conhecedor mas gosto da guitarra portuguesa. Quando fui de férias para Lisboa, lembro-me de ter comprado um CD de músicas com a guitarra portuguesa. É um daqueles discos que ouvi durante muito tempo. É bom para se sentir triste. 
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