Ainda não tem a nossa APP? Pode fazer o download aqui.

Plácido Domingo acusado de assédio sexual

Nove mulheres deram o seu testemunho sobre o comportamento abusivo do tenor.

Plácido Domingo acusado de assédio sexual

O tenor espanhol Plácido Domingo está a ser denunciado como autor de assédio sexual durante três décadas juntos de mulheres (geralmente novas e em ascensão) das suas companhias de ópera. A Associated Press (AP) recolheu os testemunhos de nove mulheres que se queixam de terem sido vítimas deste comportamento abusivo de Domingo. Oito destas mulheres optaram pelo anonimato com receio de represálias, só a mezzo-soprano Patricia Wulf assumiu o seu nome como vítima do assédio de Plácido Domingo, depois de ter trabalhado com o tenor na Washington Opera.

O relato sobre o comportamento do cantor inclui pressão a mulheres para relações sexuais a troco de benefícios de ascensão profissional no mundo da ópera, sob a ameaça de castigo em caso de rejeição, tirando Domingo supostamente partido da sua posição hierárquica superior nas companhias onde trabalhava.

"Enfiar a mão debaixo da saia" (numa situação) ou "beijos forçados nos lábios" (pelo menos, três vezes) são alguns dos atos descritos sobre o tenor junto das mulheres, ocorridos nos camarins, em quartos de hotel ou em almoços. "Um almoço de trabalho não é estranho. Alguém dar-te a mão já é um pouco estranho. Ele estava sempre a tocar de alguma maneira, sempre a beijar": esta é uma das declarações à AP.

A somar aos contactos físicos relatados pelas nove mulheres, a agência noticiosa falou com mais três dúzias de pessoas - membros do staff que incluem músicos de orquestra, bailarinos, cantores, professores de canto até um administrador - que confirmam o comportamento abusivo e "impune" de Plácido Domingo.

As acusadoras falam à AP de "telefonemas repetidos de noite [por de Plácido Domingo] para as suas casas, expressando interesse nas suas carreiras, apressando-as para encontros privados para um copo ou uma refeição, ou [em alternativa] no seu apartamento ou quarto de hotel, sob o argumento de lhes dar conselhos profissionais”.

Uma das mulheres anónimas que oferece o seu testemunho refere que teve sexo por duas vezes com Plácido Domingo e recorda numa dessas situações, no Biltmore Hotel, em Los Angeles, que quando o tenor saiu para a sua atuação, deixou-lhe dez dólares com o recado: "Não quero que te sintas uma prostituta, é só para não teres que ser tu a pagar o parqueamento". 

Este comportamento de assediador de Plácido Domingo era descrito no mundo da ópera como "um segredo mal guardado". A sua fama e as práticas de que é acusado levaram algumas das mulheres contactadas pela AP a tomar medidas para "evitar Domingo, como jamais utilizar o quarto das mulheres junto ao seu gabinete, pedir para estarem sempre acompanhadas por outros cantores ou membros do staff, e nunca atender as suas chamadas em casa". Há uma mezzo-soprano que recorda um conselho há muito ouvido nas suas companhias: "evite qualquer interação com ele. E, definitivamente, nunca esteja sozinha com ele".

Plácido Domingo, que optou por não responder a respostas específicas à agência de notícias, enviou um comunicado em que se queixa da imprecisão das alegações "de anónimas", muitas das quais sobre eventuais atos "de há 30 anos". Acrescenta que "quem me conhece ou quem trabalhou comigo sabe que não sou alguém que intencionalmente pretende fazer mal, ofender ou embaraçar alguém”, sendo para si "doloroso dizerem-me que aborreci alguém ou que fi-la sentir desconfortável". Plácido Domingo conclui assim o seu comunicado: "reconheço que as regras e que os padrões pelos quais nos medimos são hoje diferentes. Sou abençoado e privilegiado de ter tido uma carreira de mais de  50 anos na ópera onde continuarei a reger-me pelos mais altos padrões".