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Dez brilharetes musicais nos filmes de Tarantino

Estreia-se amanhã nas nossas salas, "Once Upon a Time in Hollywood". Tempo para recordar algumas das canções emblemáticas da sua filmografia.

Dez brilharetes musicais nos filmes de Tarantino

A cinefilia do realizador Quentin Tarantino abarca automaticamente a melomania. Todos os seus personagens parecem ser amantes de música, como se essa paixão do realizador se projetasse neles. Vemo-los frequentemente a cantarem músicas enquanto conduzem ou enquanto torturam as suas vítimas... Não faltam cenas memoráveis em que a música ganha um poder superior.

É amanhã a estreia nas nossas salas do décimo filme de Tarantino, "Once Upon a Time in Hollywood", que em Portugal tem o título "Era Uma Vez em... Hollywood". As obras de Tarantino são tão revivalistas que se pode dizer que são sobre cinema. Mas o realizador nunca tinha ido tão diretamente aos bastidores de Hollywood como nesta sua nova longa-metragem "Era Uma Vez em Hollywood", cuja ação se passa no macabro verão de 1969, quando a actriz grávida Sharon Tate é assassinada pela seita liderada por Charles Manson.

Mas neste artigo é a música dos seus filmes que se celebra. A música é tão importante nos seus filmes que as bandas sonoras geram quase tantas expetativas quanto os respetivos filmes.

Selecionamos dez dos grandes momentos musicais da filmografia de Quentin Tarantino, um dos grandes cineastas da nossa época.


"Cães Danados" (1992)
George Baker Selection - 'Little Green Bag'
É uma das grandes entradas míticas da filmografia de Quentin Tarantino: o desfile de créditos e a caminhada de todo o elenco masculino. Seis gangsters engravatados e os patrões (pai e filho de roupas mais informais) andam confiantes pela rua, a preparar um grande assalto, ao som da contagiante batida de 'Little Green Bag' de uns tais holandeses de nome George Baker Selection. Tarantino é um desenterrador mágico, tão bom a imortalizar canções esquecidas no baú como a recuperar atores remetidos à decadência.  

 

"Cães Danados" (1992)
Stealers Wheel - 'Stuck in the Middle with You'
Crueldade e musicalidade cruzam-se nesta cena em que, depois de falhado o assalto, Mr. Orange tortura o polícia capturado com várias naifadas, enquanto dança ao som deste clássico de soft-rock dos anos 70 de navalha no ar. O masoquismo inclui o corte de orelha ao agente, enquanto o grande êxito dos Stealers Wheel continua a passar feliz na telefonia.

 

"Pulp Fiction" (1994)
Dick Dale - 'Misirlou'
Tarantino sempre reconheceu na surf-music um enorme apelo de western, apesar das geografias opostas que rodeiam ambos. O empolgante instrumental de surf-music de Dick Dale, 'Misirlou', conheceu honras do lugar mais alto do pódio de Tarantino, ao escolhê-lo como tema de abertura do seu filme mais famoso de sempre, "Pulp Fiction". Nunca mais a vida de 'Misirlou' foi a mesma.  

 

"Pulp Fiction" (1994)
Chuck Berry - 'You Never Can Tell'
Esta dança quase que valia Óscares a Uma Thurman e ao recuperado John Travolta, ambos nomeados. O gangster Vincent Vega estava incumbido de divertir a mulher do patrão, Mia Wallace, numa saída à noite que incluía um jantar num restaurante abrilhantado pelo glamour cinéfilo dos anos 50, onde sósias de Marilyn Monroe e afins serviam de bandejas. Um tema de rock & roll à antiga pelo pai do género como Chuck Berry só ficava bem.

 

“Jackie Brown” (1997)
Bloodstone - 'Natural High'
O fascínio de Quentin Tarantino pelos filmes dos anos 70 incluía o subgénero afroamericano da blaxploitation. Habitual recuperador de velhas glórias, Quentin Tarantino apostou em dar o papel principal de Jackie Brown à esquecida actriz Pam Grier, que fora um dos grandes ícones femininos da blaxploitation, em filmes como "Foxy Brown". A cena da saída da prisão de Jackie Brown ao som de um tema de soul emblemático como 'Natural High' dos Bloodstone foi a tentativa de Tarantino seduzir o público negro. 

 

"Jackie Brown" (1997)
The Delfonics - 'Didn't I Blow Your Mind This Time'
Esta ode à blaxploitation e, automaticamente, à soul inclui a veneração de Jackie Brown e, por contágio, do seu fiador Max Cherry ao doce 'Didn't I Blow Your Mind This Time'. Esta obsessão dos dois personagens por esta canção, e logicamente do realizador, é o maior prémio que os Delfonics poderiam ter tido.   

 

"Kill Bill: Volume 1" (2003)
Nancy Sinatra - 'Bang Bang, My Baby Shot Me Down'
Que canção balística esta, que abre o primeiro dos dois filmes Kill Bill! Sente-se todo o trepidar do baixo de Bang Bang, My Baby Shot Me Down, a guitarra poupadinha nos acordes necessários e uma voz do além de Nancy Sinatra. A mulher interpretada por Uma Thurman sai do coma de quatro anos para uma vingança que necessita da única sequela de toda a filmografia de Tarantino. 

 

"Death Proof" (2007)
The Coasters - Down in Mexico
Quentin Tarantino prefere inspirar-se na sua coleção pessoal de discos para os seus guiões. O compromisso impositivo de uma encomenda de composições originais deixa-o desconfortável. Mas a coleção de discos do realizador não se ouve apenas nos seus filmes, também se vê, como é o caso da jukebox das cenas de bar do filme de carros de corrida "Death Proof", que é propriedade pessoal de Tarantino, com as cópias originais de singles históricos ali inseridas. É essa a jukebox onde Vannesa Ferlitto põe a tocar esta canção dos Coasters com que inicia a sua dança sensual, a tal lap dance, em frente ao embasbacado Kurt Russell.

 

"Inglourious Basterds" (2009)
David Bowie - 'Cat People (Putting Out Fire)'
O filme de Tarantino sobre a II Guerra Mundial é talvez a sua obra cinematográfica onde a música menos intervém. Mas David Bowie faz-se ouvir, numa grande interpretação usada primeiramente para o remake de 1982 “Cat People” que o melómano Tarantino repescou para a preparação do nazicídio pela judia Shosanna num cinema parisiense.       

 

"The Hateful Eight" (2015)
The White Stripes - 'Apple Blossom'
O homem-enciclopédia do cinema Quentin Tarantino lembrou-se de ir buscar uma canção do grande homem-enciclopédia do rock Jack White, logo da sua antiga dupla White Stripes. 'Apple Blossom' é a pista sonora de uma das cenas mais rudes deste segundo western sujo de Tarantino: o caçador de recompensas interpretado por Kurt Russell, de cachimbo, manda uma cotovelada no rosto da fugitiva encarnada por Jennifer Jason Leigh. Sem maneiras.   

 

Artigo inicialmente publicado em julho de 2019 e levemente reformulado a 14 de agosto de 2019.