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Avistamento do cometa Muse em Algés

Concerto de duas horas passado no futuro. "Simulation Theory" foi o álbum em destaque.

Avistamento do cometa Muse em Algés
Rúben Viegas

Os Muse nunca estiveram muito tempo sem vir a Portugal. Tocaram em vários pontos da Grande Lisboa, e até junto ao Tejo, como aconteceu na edição do NOS Alive de 2015. Nesta noite incrivelmente amena, o trio inglês voltou ao mesmo sítio, exatamente no espaço do Palco NOS do NOS Alive, mas com um outro palco, uma estrutura arredondada e sem cobertura onde o que sobressai é o enorme ecrã, quase do tamanho de um petroleiro. E foi nessa ponta do Passeio Marítimo de Algés que o público - como muitos estrangeiros à mistura – esteve acomodado.

Por volta das 21h35, a mensagem na grande tela "We Are Caged in Simulations" era o sinal do começo do espetáculo. Entra então uma armada futurista de gladiadores armados (com trombones para fazer de conta), onde irrompe, qual aparição, Matt Bellamy com os seus óculos luminosos do século XXIV. Para nos lembrarmos cedo que esta é uma digressão de apoio ao álbum Simulation Theory, já se ouvia então uma das suas músicas, Pressure.  

Em Psycho, Matt Bellamy, tal como gosta, fermenta tudo com pesadões power chords enquanto se esconde num falsete robótico aquando do refrão. Em Break It To Me, o vocalista volta a fazer da passadeira para o palco B uma pista de corrida, com a companhia da sua guitarra, enquanto o corpo de dançarinos desce verticalmente lá de cima por intermédio de cordas, envergando fatos espaciais. Chega depois o impactante Uprising, com a sua cavalgada, que termina com um número estridente da guitarra de Bellamy. 

Retomando o foco no álbum "Simulation Theory", é o momento de Propaganda, quando a formação de bailarinos aparece com umas espingardas de fumo que quase nos fazem esquecer que os Muse estão ali a tocar. As emoções do público à volta de Plug In Baby multiplicam-se numa diversidade de manifestações: uns fecham os olhos cantando com toda a sua força vocal, outros não resistem em fazer mais um filme com os seus smartphones, e há quem erga os braços para glorificar ainda mais o momento, como quem avista uma força divina, mas que é afinal apenas o cometa Muse. Matt Bellamy desaparece depois da nossa vista em Pray, mas a sua voz continua a fazer-se ouvir, enquanto os outros dois membros dão baquetadas em tambores gigantes que não conseguiriam passar nas portas das nossas casas. 

O power trio só está de volta ao seu berço, com poucos subterfúgios, em The Dark Side, mas o lufa-lufa espacial depressa regressaria na canção Supermassive Black Hole, com o aviso da intro da música do filme sci-fi "Encontros de 3° Grau", de Steven Spielberg. Já Thought Contagion faz do público uma espécie de claque de futebol a entoar cânticos, em meros sons de vogais. Em Hysteria, os Muse arriscam tanto no hard rock que deixam fugir uns segundos de adrenalina de 'Back in Black' dos AC/DC 

Por vezes, era necessário os Muse descentralizarem a sua ação para o palco B. Foi o que fizeram em Dig Down, tocado em versão acústica, com o trio a poucos metros da mesa de som e Matt Bellamy sentado ao piano, com os espirituais negros do gospel a surgirem subtilmente. No tema Madness, Chris Wolstenholme puxa pelo baixo futurista de dois braços. Em Mercy, explode um temporal festivo de papelinhos, confetti e fumos, depois de Matt Bellamy ter distribuído uns apertos de mão em série aos espectadores apoiados numa das grades.

Quando surge a canção nº18 do alinhamento, Time Is Running Out, os Muse despem-se do aparato futurista e dos óculos luminosos e de tudo mais só para fazer simples rock. De volta ao futuro, toca-se Take a Bow, com Matt Bellamy a cantar para um esqueleto de forma fofinha. 

Chegados a Starlight, Matt Bellamy esmera-se na língua de palco, e até exibe uma bandeira portuguesa, o momento de saída devia estar próximo. E estava. No encore, aparecem dois robôs e uma dezena de dançarinos com barras luminosas em Algorithm, enquanto Matt Bellamy continua a vestir o seu casaco faiscante. 

O medley bem hardrocker de 'Stockholm Syndrome' - 'Assassin' - 'Reapers' - 'The Handler' - 'New Born' é tocado sem que a banda sentisse medo do monstro suspenso por fios em cima do trio. A figura não era uma ilusão 3D porque ninguém estava de óculos 3D - isso é só na próxima semana com os Kraftwerk no EDP Cool Jazz. O som de harmónica enigmático do filme mítico de Sergio Leone "Once Upon a Time in The West" abriu a última canção da noite, Knights of Cydonia. 

Quando o sol ainda mandava os seus últimos raios, Miles Kane deu a cara pelo seu rock com ginga, com a ajuda dos seus três músicos, na primeira parte. Fez parelha com Alex Turner dos Arctic Monkeys nos Last Shadow Puppets e se fecharmos os olhos parece que é mesmo ele que está a cantar, com aquela rouquidão de rebelde de rua inglês. Antes, a atuação esteve por conta dos norte-americanos Mini Mansions.