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Glória aos Ornatos no NOS Alive

Belíssimas atuações de Linda Martini e Sharon Van Etten abrilhantam primeiro dia do festival de Algés.

Glória aos Ornatos no NOS Alive

Vai ficar para a história do Alive esta atuação dos regressados Ornatos Violeta no Palco NOS, diante de um público transgeracional, com muita gente nova nas filas da frente. A grande infiltração da falange de fãs de Cure não conseguiu amolecer a empatia acalorada entre a banda portuense e o público nacional presente em Algés.

Foram 75 minutos de emoções altas onde o celebrado álbum de 1999 "O Monstro Precisa de Amigos" foi passado a pente fino, sem quaisquer canções do disco de estreia "Cão" no alinhamento.

Quando os Ornatos Violeta sobem a palco às 20h45, há no olhar de Manel Cruz a certeza imediata de que este ia ser um concerto especial. O vocalista lingrinhas usa o primeiro minuto em palco para contemplar a vista à sua frente e simular um retrato com a máquina fotográfica a toda aquela massa humana. 

O quinteto nortenho surpreende logo tudo e todos com uma versão de 'Circo de Feras' dos Xutos. A seguir, entra-se no álbum que festeja 20 anos, com a faixa nº1 do disco, 'Tanque', que soa sempre a aquecimento exploratório de preparação para alguma coisa maior a seguir. Mas quem pensava que a banda ia seguir o alinhamento e tocar a faixa n°2 'Chaga' enganou-se. O que se toca é 'Pára de Olhar para Mim', quando Manel já tinha tirado o relógio e a camisola. Mas foi por pouco tempo. Num momento de espontaneidade, foi buscar uma camisola dos Ornatos à primeira fila e envergou-a. "Não estava habituado a vestir-me, só a despir-me", confessa, antes de se atirar a mais uma canção do Monstro, 'Para Nunca Mais Mentir'. 

Já de tronco nu novamente, Manel Cruz torna-se o maior herói do rock naqueles minutos de 'Ouvi Dizer', erguendo os braços no ar, enquanto uma miúda sorri às cavalitas. O ar estava quente mas, no nível abaixo, a multidão formava já um braseiro de emoções. 
 
A tela de imagem da direita começa a falhar com uma faixa preta mas no palco tudo corre de feição. Em 'Coisas', quando Manel Cruz canta "eu estou bem", parece dizê-lo com convicção. As músicas d'"O Monstro Precisa de Amigos" não param de ser tocadas, mesmo quando se continuem a ver t-shirts do "Cão" a serem mostradas pelos fãs mais bem posicionados. A balada 'Notícias do Fundo' é pintada por um céu lindíssimo que vê o sol despedir-se

'Deixa Morrer', 'Nuvem', 'O.M.EM'... "O Monstro Precisa de Amigos" continua a ser tocado. Manel sorri repetidamente para a multidão e a guitarra elétrica de Peixe está cada vez mais endiabrada. Mas, com o frenético 'Chaga', o Mercedes sonoro do grupo torna-se num bólide de fórmula 1 que o público consegue perseguir. 

Entre os clássicos finais, toca-se um tema do disco perdido dos Ornatos. 'Dia Mau' é rock malandro com sintetizadores aos rodopios e 'Capitão Romance' uma balada de marinheiros já sem Gordon Gano. O encore com 'Fim da Canção' (o tema final de "Monstro") é o prémio justo para um acontecimento maior, mesmo que os Ornatos não sejam os cabeças-de-cartaz de hoje.

Foi fofinho o final do concerto dos Weezer no Palco NOS, ao som de êxitos do álbum de estreia homónimo, como 'Say It Ain't So' e 'Buddy Holly', com o líder Rivers Cuomo a descobrir, aos 49 anos, que é popular em Portugal. O miúdo que há em si veio ao de cima, aproximando-se do público e elevando o suporte de microfone na direção da multidão sempre que vinham os refrães. O homem estava deslumbrado.

Nem as falhas de som perturbaram grandemente a atuação onde houve várias versões, incluindo 'Africa' dos Toto. De ar mais betinho, de camisa às bolinhas, chapéu e os habituais óculos de barra, Rivers Cuomo foi o comandante deste rock algures entre os Beach Boys e os Nirvana.   

Foi mesmo a abrir que, perdoem a redundância, foi aberto o Palco NOS às 18h00, por uns Linda Martini de velocidade governada, com uma sincronia de quem se conhecem melhor que ninguém. Todos os quatro sabem o segundo preciso em que se vai dar a tempestade sónica seguinte, numa alinhamento que foi uma sova: 'Caretano', 'Unicórnio de Sta. Engrácia', 'Boca de Sal' ou 'Amor Combate' foram tocados. Louve-se ainda o jeito comunicacional do baterista Hélio Morais que nunca se esquece a turba que os segue, onde estava a sua mãe, e mandou ainda a "dica" aos festivaleiros "de se aproximarem do palco para fugirem à sombra". 

Quem impressionou grandemente na outra ponta do recinto, no coberto Palco Sagres, foi Sharon Van Etten. À conta do ciclo atual do seu álbum deste ano"Remind Me Tomorrow", mostrou um ar ousado, de calças de couro e sweat shirt de rede transparente com top, tudo em tons pretos. Sharon Van Etten mostrou-se neste final de tarde uma cantora mais dramática, que mergulha mais no mundo dos sintetizadores. Sem guitarra elétrica, transforma-se numa performer explosiva, com a desinibição gestual de uma Patti Smith. 
 
O disco é forte e isso sente-se na atuação, ao som de Jupiter, Comeback Kid, No One's Easy to Love, ou Seventeen, que foram todas tocadas. Em Hands, acontece indie-rock com lamúria e berros, com a cantora de dentes cerrados e cabelo desgrenhado com que vai abanando para fora dos seus grandes olhos. Tudo com o estilo sempre presente. 

Apesar da faceta mais urbana de hoje, refugiou-se no passado e em pequenos retiros campestres, já com a folk em fundo, quando cantou One Day ou Tarifa. No tema final da atuação, Serpents, Van Etten encontrou o seu monte Evereste sentimental num puro momento de rock & roll a verter meiguice em apoteose.