A ideia de adiar a entrada na Universidade para viajar era aparentemente uma mera conversa e os pais nunca esperaram "que fosse tomar estas dimensões".
Pedro Gonzaga, de 17 anos, e Simão Gonçalves, de 18 anos, são alunos finalistas do 12º ano e venceram a 5ª edição do concurso promovido pela Gap Year Portugal, com o projeto "Sou(me)thing". O gap year, também conhecido como ano sabático, é um período alargado de tempo "em que se sai da zona do conforto e vive-se novas experiências". Dependendo dos objetivos de cada um, um gap year pode ser viajar, mas também estagiar ou fazer voluntariado. Para o Pedro e o Simão o seu gap year vai ter de tudo um pouco.
Para muitos dos seus colegas, o final do ensino obrigatório culmina com a entrada no Ensino Superior. Apesar da primeira opção ter sido a candidatura à Universidade, sentiam a necessidade de "expandir horizontes", fugindo à rotina e quebrando os percursos tradicionais. Pedro e Simão contam que se sentiam "forçados a decidir o futuro em tão pouco tempo".
É sob o mote de "Sou(me)thing" que edificaram a viagem. 'Southing' simboliza a bússola dos viajantes que, durante oito meses, apontará para o sul geográfico do continente africano, mas também para as "profundezas da nossa essência". O '(me)' surge entre parênteses, porque não "pretendem ser os protagonistas" da viagem. O título do projeto, lido em voz alta, assemelha-se a 'something'. "É precisamente disso que vamos à procura, de algo que ainda desconhecemos".
Durante oito meses, os jovens de Ansião e Avelar, no distrito de Leiria, partem à aventura no continente africano. Começam o gap year na Tanzânia, onde pretendem subir ao monte Kilimanjaro e seguem viagem para Moçambique, Botswana, África do Sul, Namíbia e Angola. Pretendem ficar um mês em cada país, num registo low-cost e recorrendo, sempre que possível, a boleias e ao couchsurfing.
Em cada país vão integrar missões de voluntariado, como por exemplo "trabalhar numa quinta de abelhas, vamos fazer jardinagem em quintas sustentáveis, trabalhar em escolas, com doentes e crianças", revela o Simão. Para reduzir custos, pretendem fazer work exchange (trabalho a troco de alimentação e alojamento), mas não deixam de parte as "experiências únicas" que o continente africano lhes pode proporcionar, como por exemplo nadar com tubarões na África do Sul, andar de 4x4 no vale de Sossuvlei, na Namíbia, e visitar as reservas naturais na Tanzânia e no Botswana.
Entre risos, Pedro confessou que a mãe ficou em "choque" ao saber que tinha ganho o concurso, por nunca pensar que "fosse tomar estas proporções". "Ao princípio a minha mãe estava receosa, mas depois de ter falado com amigos e familiares, apoiou a minha decisão", conta o Simão.
Ambos contam que existe uma "ideia errada do continente africano" e é essa ideia que queremos desmistificar" através das redes sociais e um site que estão a construir.
O presidente da Gap Year Portugal, João Pedro Carvalho, diz que o conceito tem vindo a crescer em Portugal. Ao longo dos anos esta ONG já apoiou mais de 2000 jovens de forma gratuita.
Para já, a viagem pode ser acompanhada através da rede social Instagram @soumething