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Tatanka: por trás dos Black Mamba, há uma alma bem portuguesa

Tatanka atua hoje no Tivoli, em Lisboa, para apresentar o seu novo álbum, "Pouco Barulho".

Tatanka: por trás dos Black Mamba, há uma alma bem portuguesa

Silêncio que vai tocar Tatanka. Pelo menos, parece ser esse o pedido do título do seu disco, "Pouco Barulho", que vai hoje apresentar ao vivo no teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, a partir das 21h30.

Em inglês, Pedro Tatanka é soul. Em bom português, é alma. Por trás da fragrância soul da sua banda Black Mamba, há em nome individual alguém que na sua língua-mãe tem grandes canções na manga - de que 'Alfaiate' é uma evidência - e onde a sua magnífica voz é ainda mais flagrante. A transparência de quem é afinal Tatanka só o beneficia.

"Pouco Barulho" é um álbum mais pessoal, onde Tatanka faz muita coisa (co-produz, compõe, muita coisa toca, muito canta) mas não está de modo nenhum sozinho. A simplicidade é o foco mas os detalhes continuam lá, numa omnipresença discreta, como um pai que vigia o filho maduro à distância. O piano nunca está distraído e aparece sempre que é preciso. E os sons do Quarteto de Cordas de Matosinhos são mais que um enfeite erudito.

O homem da grande cidade nos Black Mamba foge em nome próprio para o campo da contemplação e para a interiorização de grandes espaços com pouco cimento. Esse Portugal (no) interior marcha bem no folclore puro de 'Aldeias', numa procissão festiva que é também empurrada pelo cavaquinho de Daniel Pereira Cristo.

Mas Tatanka é um português do mundo, do norte e do sul, da América do Norte e da América do Sul, dos blues ao tango, porque ambos cabem no transfronteiriço 'De Alma Despida', onde o quarteto de cordas e um piano de salão convidam uns solos de guitarra elétrica para uma dança, como se Tatanka tivesse acabado de parar num café de Buenos Aires para sacudir a poeira de uma grande terra árida onde índios e cowboys se encontraram. Por intermédio da participação de Diego El Gavi, vem também bom vento de Espanha, com o abanão nos ares pela voz, palmas e dedilhados de guitarra do flamenco, sempre com Tatanka como anfitrião. Neste livro de estilo(s), não consegue fugir da sua querida soul, como na faixa nº 3, 'Adoro Quando Sorris', colorida pelos sons caribenhos do reggae e de parentes próximos da Jamaica.

"Pouco Barulho" é um álbum pequenino, de nove canções, mas recheado de experiências diversas. A isso, pode chamar-se de concisão. O concerto desta noite no Tivoli tem, por isso, ótima matéria para correr bem.

Artigo de opinião.