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Manel Cruz: a criação em cada recomeço

"Vida Nova" já pode ser ouvido de uma ponta à outra. É o disco que sela a vontade do músico em continuar nesta sua vida de partilhar o que cria connosco. Manel Cruz ainda não acabou. Nós respiramos de alívio e dizemos: ainda bem.

Manel Cruz: a criação em cada recomeço

Manel Cruz lança hoje "Vida Nova", o primeiro álbum que assina em nome próprio, depois de sete anos sem editar discos. Antes desta nova vida deu, ao seu último registo discográfico a solo, o nome de "O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu Que Estraguei", lançado ao abrigo de um projeto seu mais insular, Foge Foge Bandido. Já lá vai quase uma década e, nos entretantos, tal como a todos nós, a vida foi acontecendo também ao músico portuense que, para muitos, e desde o tempo dos Ornatos Violeta, continua a ser uma das vozes - ou talvez o grito - de uma geração que foi sobrevivendo à encruzilhada de dilemas internos numa dialética revestida de flanela e ganga. Todos crescemos e agora talvez estejamos mais habituados ao jogo da existência - mas já lá vamos. 

Se no último disco ouvimos as cantigas (e experiências em liberdade absoluta) do bandido, agora a narrativa "Vida Nova" chega com 12 canções, com uma premissa mais clássica, que emergem, acima de tudo, de cumplicidades (mais antigas ou mais recentes) e da soma de experiências que foram sendo redimensionadas à luz do desígnio mais legítimo de quem anda nisto que é existir: voltar a sentir "pica" e arrebatamento puro no curso da vida. Neste caso, na vida criativa e na sua transposição delicada para os discos e para os palcos. Haverá maior liberdade do que encontros ou reencontros em solo cúmplice? Talvez não. 

A inquietude criativa de Manel Cruz, tal como a conhecemos, não foi beliscada, talvez tenha sido apenas serenada por uma ideia de ordem que agora quer dar aos seus dias. Ainda há muito para ser continuado depois de mais esta vida e esta voracidade de querer voltar logo ao seu lugar de criação é igualmente um desígnio legítimo de quem anda nisto que é fazer música. O Manel - tomando a liberdade de o tratarmos assim - está satisfeito com esta vida.

 

 

A "Vida Nova" de Manel Cruz é então mais um manifesto da cumplicidade que o músico tem com a arte de criar a sua música, em toda a sua amplitude e possibilidades, da melodia ao lirismo bem apurado, belo e poeticamente infalível. É sobretudo um manifesto da honestidade que ampara a relação de ambos. O que é novo pode afinal ser a forma com que lidamos com o que já sabemos. Uma reciclagem da existência bem assente em recomeços e na reorganização de emoções e estados de espírito.

Porque falamos em cumplicidade, quem diria que um jantar com o músico brasileiro, Rodrigo Amarante, tenha sido um espaço partilhado de alento e a motivação extra que faltava para seguir caminho com "Vida Nova".

Manel Cruz, agora pai de família, confessa-nos coisas suas neste disco. Para nós, é um prazer ouvi-lo.  

 

 

Manel Cruz partilha esta "Vida Nova" com António Serginho (percussão, piano, xilofone), Eduardo Silva (baixo, voz) e Nico Tricot (piano) e vai mostrá-la ao vivo no dia 28 de abril, na Casa da Música, no Porto, e no dia 1 de maio, no Capitólio, em Lisboa.