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Sara Correia: "o fado tradicional corre-me nas veias"

Entrevista à cantora que se estreia com um álbum em seu nome, lançado este mês.

Sara Correia: "o fado tradicional corre-me nas veias"
DR (cortesia Universal Music)

Sara Correia, que tem desde há dias o seu primeiro álbum à venda ("Sara Correia"), já nasceu fadista. Viu a luz há 24 anos na sua Lisboa e adotou há muitos anos Alfama no seu coração. É o bairro por que torce nas Marchas Populares de Lisboa. "Eu nasci no bairro de Marvila, em Chelas. É o bairro que mais gosto. Foi onde eu nasci e fui criada. Mas tenho uma grande afinidade com Alfama porque trabalhei desde sempre lá [na Casa de Linhares]. Alfama é o bairro mágico que existe no fado. É um marco para mim", diz-nos com emoção.

 

Sara Correia cresceu em ambiente fadista. "Tinha uma tia que cantava, a minha tia Joana Correia. A primeira vez que fui aos fados tinha três anos. A partir daí foi sempre a ir às casas de fado, ir ao Coliseu dos Recreios ver as Grandes Noites do Fado. Aliás, em 1997, fui ver a minha tia Joana ganhar a Grande Noite do Fado com o Ricardo Ribeiro. E eu ganhei passados dez anos, em 2007”, recorda.

 

Claro que os discos de Amália Rodrigues eram ouvidos lá por casa, na companhia da sua tia Joana. Sara Correia nem vê maneira de se gostar de fado, sem se gostar de Amália. "É o topo, é o fado em pessoa. Quando gravei o 'Fado Português' [faixa de abertura do seu álbum], que é o ícone do fado, foi uma grande responsabilidade. Na altura, eu não sabia se devia ou não cantá-lo".

 

Sara Correia chegou a conhecer a sua irmã, a mítica Celeste Rodrigues, na Casa de Linhares, onde também cantavam (ou cantam) Jorge Fernando e Maria da Nazaré. Celeste Rodrigues, recentemente falecida, não mostrava apenas a sua grandeza a cantar. A sua voz também servia para aconselhar os mais novos. Sara Correia lembra-se bem de algumas dicas valiosas. "Eu estava mal da garganta, fiquei sem voz de repente e lembro-me de me sentar à mesa com vontade chorar porque nós que cantamos, quando perdemos aquilo de que mais gostamos, entramos em pânico. Eu lembro-me da Celeste me dizer: 'querida, não te preocupes que a voz ainda vai voltar, ainda tens muito que fazer'. Há coisas que nos marcam e que nos fazem sentir seguros. Sem dúvida que a dona Celeste foi muito importante como foi para muitos outros fadistas".

 

Sara Correia tem sido acompanhada por Diogo Clemente na guitarra acústica, Ângelo Freire na guitarra portuguesa, "o mestre" Marino de Freitas na viola-baixo e Vicky Marques na percussão. "Eu tive a sorte de crescer e aprender com eles e de os ter como amigos. Se calhar foi um bocadinho mais fácil por esse motivo também porque temos uma grande afinidade entre todos e as coisas acontecem naturalmente".  

 

Quase todos estes músicos ajudaram-na a gravar o seu álbum homónimo, produzido e misturado por Diogo Clemente. Sara Correia tem passado por vários testes desde os seus 13 anos: a vitória na Grande Noite do Fado, as atuações nas casas de fado de renome, as participações nos festivais Caixa Alfama e Caixa Ribeira, as digressões bem longe do país... Até ao sonhado álbum com o seu nome na capa. "Esta é a minha maior prova de fogo. Foram três anos de recolha de letras e de fados. Dá muito trabalho - para quem não sabe – porque é o contrário do que fazemos diariamente. Nós cantamos dentro de casas de fado, não dentro de um estúdio onde se calhar é mais difícil acontecer o fado. Essa foi a minha maior prova de fogo porque era tudo uma novidade para mim. Eu queria que este disco nascesse".

 

Um álbum de estreia pode ser apenas o reflexo daquele momento de gravação com aquele grupo de trabalho; ou tornar-se o símbolo de uma vida inteira de trabalho até à entrada em estúdio. É esta segunda hipótese que se aplica a Sara Correia. O álbum "é o retrato da minha vida até aqui. Por isso é que eu quis chamar este disco de Sara Correia porque tudo aqui que foi escolhido fala de coisas que já se passaram na minha vida e outras que já se passaram a quem é mais chegado a mim".

 

Sara Correia já cantou em casas de fado, em ruas de bairro e em salas de espetáculo de prestígio (Centro Cultural de Belém e até mesmo a Altice Arena). Mas não há predileção quanto ao espaço onde cantar. "Tem que haver uma entrega. Quando há uma entrega, quando estamos a cantar o fado, é sempre muito emocionante. E há uma grande responsabilidade. Eu não tenho um sítio onde queira muito ir. Eu quero ir a todo o lado".

 

Haverá na cantora Sara Correia outras músicas que não o fado? "Eu não digo que não a nenhuma música. Como é óbvio, o fado tradicional é o que me corre nas veias e não posso fugir disso. Claro que há outras coisas que também gosto de cantar. Mas o fado é a minha paixão e é aquilo que quero fazer, principalmente o fado tradicional".