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NOS Alive: Nine Inch Nails esmagadores

Viagem entre o céu e o inferno na alma de Trent Reznor. Bryan Ferry continua o elegante-mor.

NOS Alive: Nine Inch Nails esmagadores

De t-shirt escura ou mesmo com o seu casaco de cabedal, Trent Reznor tem hoje um ar absolutamente normal, 25 anos depois daquela figura mais alienígena. É assim hoje o Trent Reznor que passou pelo Palco NOS do NOS Alive, o epicentro do tornado sonoro que são os Nine Inch Nails, que mostraram que ainda são uma grande banda ao vivo.

As luzes escuras carregam ainda mais a música. E impressiona a sensibilidade cinematográfica da filmagem transmitida nas telas laterais, a optar curiosamente pelo preto e branco, conhecedor dos movimentos do grupo e a responder bem ao frenesim da música, abanando a câmara, e com planos bastante felizes a captarem até o suor de Trent Reznor com grande nitidez.

A estética de rock industrial operada por maquinaria pesada é reconhecível, mas não tanto cada canção que a banda foi tocando ao longo da mais de uma hora da atuação. Trent Reznor agita-se junto ao microfone, raramente se comprometendo com um instrumento. Berra muito no meio daquele ataque sonoro, mas por vezes segue de repente por um canto celeste, como se estivesse a preparar para cantar mais tarde ou mais cedo 'Hurt'. Esse momento aconteceu, Hurt no final dos finais, uma balada tão auto-punitiva quanto brilhante. Antes tinha havido outros momentos sublimes, nomeadamente a versão de 'I'm Afraid of the Americans', do David Bowie dos nos 90 quando o Camaleão se estava a influenciar pelos Nine Inch Nails.


Antes, atuou o sedutor Bryan Ferry, sempre elegante de fato e camisa, a meter inveja aos mais novos. Como habitual, tem vários membros femininos na banda, incluindo uma lindíssima teclista e saxofonista de cabelos escuros e olhos azuis, Jorja Chalmers, que foi marcando a sua personalidade, sobretudo quando perfumou o prolongamento instrumental de 'If There Is Something', um dos temas da velha banda de Ferry, os Roxy Music, que foi tocado em Algés, tal como 'Casanova', 'Avalon' ou 'Virginia Plain'. O ar fleumático do veterano cantor faz parte de um charme que se colou muito bem aos ouvidos quando interpretou 'Don't Stop the Dance' ou 'Slave to Love', os temas mais emblemáticos da sua carreira a solo.

Os Wolf Alice voltaram a um sítio onde foram muito felizes há dois anos, quando o Palco Sagres se chamava Palco Heineken. Mas agora tinham bastante mais público, a abarrotar para fora do espaço do hangar. Os Wolf Alice devolveram o carinho que lhes foi mostrado com uma atuação cheia de nervo, em que a vocalista Ellie Rowsell conseguiu projetar a sua voz para picos difíceis de atingir. A pujança das canções do seu segundo álbum "Visions of a Life" deram a este concerto um prazo de validade na memória maior que a prestação de 2016.