O primeiro-ministro não hesita em afirmar que a reunião da NATO foi "tão horrível" como a anterior mas numa posição conciliadora lembra que a Aliança Atlântica é histórica e vai perdurar.
Na conferência de imprensa no final da reunião extraordinária para debater o aumento das despesas militares dos Aliados, António Costa foi confrontado com as posições do presidente norte-americano que pressionou os países no sentido de aumentar o investimento. Trump terá mesmo ameaçado abandonar a NATO. O primeiro-ministro lembra que os políticos tem estilos próprios mas as instituições e as alianças perduram.
"Os países e os políticos têm cada um o seu próprio estilo negocial, mas a NATO não é uma organização que tenha nascido ontem, não é um evento conjuntural. As relações entre a Europa e os Estados Unidos têm uma longa tradição (...) Nós temos que compreender que pode haver momentos de maior proximidade ou de maior afastamento, mas que há uma relação estrutural que perdura e que perdurará seguramente, e que por isso nós devemos sempre encarar estes momentos de maior tensão com a serenidade e a racionalidade devida, de forma que as coisas se reconduzam para o ponto certo", disse.
Costa recusou sempre revelar o que aconteceu no interior da sala de reuniões mas assumiu a dureza das negociações que, ainda assim, sublinha terem chegado a "bom porto".
Já quanto ao desejo expresso pelo Presidente norte-americano de que os Aliados subissem mesmo as suas despesas militares para 4% do respetivo Produto Interno Bruto (PIB), o dobro do objetivo acordado em 2014 no País de Gales (2%), António Costa garantiu que "não há qualquer alteração" relativamente à meta acordada há quatro anos, e que constitui já um esforço considerável.
"Quanto à duplicação do esforço, não vemos razão para isso. Nós devemos ter um esforço correspondente às necessidades (...) Este é o esforço que podemos e devemos fazer", declarou.
No que diz respeito a Portugal, António Costa escudou-se no programa "responsável" que apresentou na véspera ao secretário-geral da NATO e que especifica que o país vai consagrar 1,66% do Produto Interno Bruto (PIB) a despesas em Defesa até 2024.
"Reforçar a capacidade das nossas Forças Armadas é reforçar a soberania nacional, investir no sistema científico e na indústria nacional é reforçar a capacidade de produção nacional, e isso obviamente é defendido de forma muito consensual no conjunto da sociedade portuguesa. Se o nosso programa de aquisições fosse para adquirir armamento importado, seguramente seria menos consensual", observou.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro apontou os novos objetivos em matéria de capacidades, destacando a aquisição de um conjunto de KC390, e de novos navios de patrulha oceânica, incluindo a construção de um novo navio logístico polivalente, assim como a mobilização de cerca de mil milhões de euros para a área da investigação e desenvolvimento,
"Nós devemos procurar em cada euro satisfazer vários dos objetivos que temos. Desta vez, o que conseguimos com o programa que apresentamos, é reforçar as capacidades das nossas forças armadas, a capacidade do nosso sistema científico e a capacidade da nossa indústria. Acho que isso é um bom investimento", sublinhou hoje
Costa considerou que "o quadro anualizado" apresentado à NATO representa um "modo inteligente de simultaneamente ter Forças Armadas com maior capacidade, um sistema naval mais robusto e uma indústria mais competitiva".
"É um três em um", concluiu.
Em síntese, garantiu que já assistiu a reuniões mais tensas do que a cimeira da NATO que hoje terminou em Bruxelas e manifestou-se seguro de que a Aliança Atlântica vai perdurar.
"Nem eu era nascido quando a NATO nasceu, e seguramente há de existir muitos anos para além da minha vida", declarou.