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Viagem ao Panamá: do canal aos papers

Eram a bolinha mais desejada do sorteio do Mundial. Sorriu à Bélgica, Tunísia e Inglaterra.

Viagem ao Panamá: do canal aos papers

O Panamá era a equipa mais desejada do Mundial. Mas a seleção já virou a página: deixou de ser uma equipa goleada e atreve-se agora a estar entre os maiores... Com a vantagem de ser uma incógnita para todos, menos para os próprios.

Futebol Atual

Um dos dois estreantes em fases finais do Mundial! Uma qualificação arrancada a ferros que teve tanto de surpreendente como de mágica, tal a forma como foi conseguida. O golo do central Román Torres contra a Costa Rica, ao minuto 88, já faz parte da história do futebol panamiano: significou o 2-1 definitivo que selou o apuramento histórico, em combinação com a surpreendente derrota dos Estados Unidos, com Trinidad e Tobago, pelo mesmo resultado. Uma cambalhota na última jornada da fase de qualificação que retirou os norte americanos dos primeiros lugares e incluiu o Panamá na zona de qualificação.

Viveram-se dias de felicidade no Panamá e nem a polémica espoletada por um golo irregular no jogo decisivo (a bola rematada por Gabriel Torres não ultrassou a linha de golo) assombrou a qualificação de uma seleção que sofreu mais golos do que marcou e que tem apenas três seleções abaixo no ranking da FIFA. 

O médio Gabriel Gomez, que passou pelo Belenenses, é um dos mais experientes do lote que vai ao Mundial, num elenco que conta com o herói Román Torres. O anterior adjunto de Maturana, na Colômbia, Hernán Dário Gómez , com vasta experiência ao nível de seleções, é o responsável técnico, cuja missão é deixar boa imagem na primeira fase, frente a Bélgica, Inglaterra e Tunísia. 

 

 

A equipa que era goleada

26 de março de 2013 é o dia em que o Panamá finalmente consegue ganhar um jogo da qualificação para o Mundial, ainda para mais no grupo final da CONCACAF, disputado por seis equipas. Foi diante das Honduras, por 2-0. Tornou-se na única vitória da dezena de jogos mas mudava o paradigma panameco. Antes, foi um historial de goleadas e uma ausência quase total de vitórias. Pior ainda, o sonho de qualificação, se é que existia, terminava logo nas pre-eliminatórias, a dois anos da competição. Entre as goleadas sofridas contam-se dois 5-0 das Honduras e de Guatemala em 1980; um 5-1 da Costa Rica em 1990; e um 5-0 do México em 2005.

 

Bailes mexidos
O tamborito é o grande género musical panameco, um baile aos pares entre homens e mulheres uniformemente vestidos: eles de camisas brancas e chapéus de palha, elas de vestidos impecavelmente bordados e flores nos cabelos. O tamborito não marca só presença nos palcos, também invade as ruas com grandes desfiles e batucada. A cumbia, a salsa e o calypso, comuns naquela região geográfica, também animam um povo... já de si muito animado

 

América, América

A cozinha panameca é tipicamente americana. Também se cozinham muito as empanadas (espécie de pastéis de massa tenra populares na Colômbia e na Argentina), as tortillas (como no México), as tamales (o enrolamento de comida em folhas habitual no México e na Colômbia), o ceviche (a marinada de peixe muito cozinhada no Peru e na Costa Rica) e bebe-se igualmente uma grande variedade de sumos naturais (de maracujá, papaia, ananás, entre muitos outros). O arroz con pollo (arroz com frango) é um prato nacional, tal como o bollos, que é um puré de milho cozido numa folha de bananeira.

 

O tal canal
Associamos o Panamá a duas coisas imediatamente. A primeira não é necessariamente boa: tratam-se dos Panama Papers, o nome do trabalho coletivo levado a cabo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que revelava as personalidades que recorrriam a paraísos fiscais. A associação que se generaliza ao país injustamente deve-se apenas à localização de uma das empresas envolvidas: a firma de advogados Mossack Fonseca, sediada na cidade do Panamá. A segunda referência óbvia ao Panamá já é mais positiva, falamos do Canal do Panamá, uma grande obra de construção iniciada pelos franceses e concluída pelos norte-americanos em 1914, que permitiu ligar no centro da América os oceanos Atlântico e Pacífico, que estavam separados apenas por um pequeno braço de terra.

A herança índia do país sente-se em vários locais, um dos mais deslumbrantes o do arquipélago de ilhotas da província de Guna Yala, onde vemos nativos a navegar em canoas. Bem mais acima da linha do mar, a 3400 metros de altitude, fumega o Vulcão Barú, o pico mais alto do Panamá, ligado à cordilheira de Talamanca. Com vista para o mar, há um assombro de história chamado Casco Viejo, uma cidade colonial do século XVII, Património da UNESCO. Entre palácios, ruínas e praças, impressiona dentro de uma igreja, a Iglesia San Jose, o seu altar dourado.

O desporto panameco é bastante influenciado pelos Estados Unidos, como prova a paixão pelo basebol e pelo basquetebol. Esta última modalidade já deu grandes desportistas nascidos no país, sobretudo Rolando Blackman que brilhou na NBA nos anos 80 e 90, ssobretudo nos Dallas Mavericks. O homem do salto em comprimento Irving Saladino foi o único campeão olímpico que o Panamá teve: a bandeira panameca subiu mais que as outras no Pequim 2008. Mas Saladino não se tinha ficado por aqui naquela especialidade; já era campeão mundial, campeão ibero-americano, campeão pan-americano e campeão do mundo em pista coberta. Um palmarés de peso.