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Viagem à Colômbia: das arepas à cumbia

Os nostálgicos do futebol romântico podem deliciar-se com a equipa dos ex-portistas James Rodriguez e Falcao.

Viagem à Colômbia: das arepas à cumbia

A Colômbia tem sido o novo grande sul-americano, a ameaçar cada vez mais uma proeza maior que os quartos-de-final do Mundial 2014. Em busca de uma conquista planetária a que está acostumada Shakira. 

Futebol Atual

Depois da boa imagem deixada há quatro anos, no Brasil, a Colômbia parte para este Mundial com ambição reforçada. Os quartos-de-final atingidos em 2014 - melhor registo da Colômbia em cinco presenças - legitimam o sonho de Los Cafeteros em fazer melhor na Rússia, até porque a base da equipa mantém-se, reforçada ainda com a entrada de Falcao, a grande ausência do último Mundial por lesão.

O argentino José Pekerman continua a ser o timoneiro de uma seleção com influência europeia e que tem em James Rodriguez (melhor marcador do Brasil-2014) como a principal referência. O avançado do Bayern Munique, agora com 26 anos, regressa à competição que o retirou do anonimato para a maioria dos adeptos do futebol. Santiago Arias (PSV), Radamel Falcao (Monaco) e Joan Quintero (River Plate) são os outros colombianos mundialistas com passado ao futebol português, num elenco que conta ainda com os mediáticos Cuadrado (Juventus), Bacca (Villareal), Muriel (Sevilha) ou Yerry Mina (Barcelona). Nomes que fazem da Colômbia uma seleção a correr por fora, mesmo tendo em conta o atribulado apuramento, com apenas mais um ponto que o Chile, já fora da qualificação. Num grupo com Japão, Polónia e Senegal, seria muito estranho não ver a Colômbia na segunda fase do Rússia-2018.

 

 

Valderrama, Higuita & companhia

Uma grande nação futebolística nasceu só em 1990, a Colômbia. Antes era irrelevante, com apenas uma presença no Mundial de 1962 sem qualquer glória. No Itália 90, o país qualificou-se para a segunda fase, mas o guarda-redes Higuita sempre sonhou em ser um jogador de campo. No prolongamento do jogo dos oitavos-final contra os Camarões, o homem das luvas trocava em grande estilo trocava a bola com outro defesa junto à linha de meio-campo quando, de repente, Milla intercepta a bola e inicia uma caminhada fácil para a baliza abandonada. Colômbia fora. Em 1994, chegaram aos Estados Unidos com estatuto de candidatos ao título mundial - com uma frente atacante com Asprilla, Rincón e Valencia (o tal que esteve para ser do Benfica) e o carismático Valderrama no meio-campo - mas terminaram em último do grupo.
 
Em 2001, como anfitriões da Copa América, ganharam pela primeira vez a prova sul-americana, sem ter que defrontar nenhum gigante. Um golpe de cabeça do defesa do Inter de Milão Córdoba para as redes mexicanas na final iniciou a noite de festa mais longa para muitos colombianos. Os clubes acompanharam este despertar tardio colombiano: o Nacional de Medellín  já ganhou duas Taças dos Libertadores, o Once Caldas ganhou uma.
 

  

Bailaricos

A cumbia é a grande música da Colômbia, com grandes bailaricos com batucada, cantoria e metais de sopro. Mas há também outra música de grande soltura corporal, o vallenato, onde o acordeão brilha, soltando ares efusivos. Uma das maiores estrelas colombianas, o também ator Carlos Vives, socorre-se muito do vallenato.
 
A Colômbia é mesmo virada para a festa. Há também muitos grupos de salsa no país, e um ícone maior como Joe Arroyo (1955-2011), sempre com um pé na cumbia. Mas a maior estrela internacional colombiana é sem dúvida Shakira, uma das figuras maiores da pop de hoje com um jeito típico do país: a expressão corporal.
 

 

Chá de coca

A cozinha tem a variedade da sua paisagem: das montanhas andinas aos planaltos e à selva tropical. Há mais de 30 tipos de batatas, as mais importantes a batata crioula (de polpa e casca amarela) e a sabanera. Tal como nos países próximos, há o uso recorrente de milho, de feijões (frijol) e de arroz. Nos planaltos, come-se o ajiaco, uma sopa com carne de frango batatas e legumes. Outra sopa em conta é o cuchuco de espinhaço, de milho com legumes e lombo de porco.
 
Na Colômbia, comem-se muitas tamales, uma massa de farinha de milho com carne guisada, envolvida em folha de bananeira. Sem folhas de maneira, há as populares e muito práticas arepas, também uma massa de farinha de milho (também muito recorrente na Venezuela) que leva vários recheios, desde queijo a carne picada. Esta massa amarelada já do tempo dos índios adquire várias formas, por vezes de aldeia para aldeia, e pode ser comida num caldo de sopa até.
 
Ao contrário da má fama por causa do processo químico da cocaína, a planta da coca, frequentemente vendida no mercado, tem atributos medicinais e serve como chá estimulante e é muito bebido na Colômbia. Mas há outras bebidas quentes ainda mais recomendáveis como o poderoso café do país ou o chocolate quente. Outra bebida quente, mas alcoólica, é o canelazo, também consumido nos países vizinhos: é uma mistura polpa de maracujá e sumo de laranja fervidos numa panela com paus de canela, a que se acrescentam depois da fervura aguardente de cana (opcional) e canela em pó, e no topo do copo ainda leva sal grosso (ao estilo da margarita). O canelazo também pode ser bebido como refresco.
 


Realismo mágico

Uma das grandes figuras culturais colombianas é o escritor Gabriel García Márquez (1927-2014), prémio Nobel da Literatura em 1982, e autor de alguns dos livros mais marcantes do século XX, como "Cem Anos de Solidão" (de 1967) e o seu "realismo mágico", como foi rotulado o seu estilo que fez escola noutros países. Mais real que Macondo, a terra imaginária deste livro, é a colorida e lindíssima cidade de Cartagena, histórica cidade colonial do império espanhol, declarado Património Mundial da UNESCO, com as suas muralhas, mosteiros e conventos. Como se não bastasse, é brindada por numerosas praias.
 
No desporto internacional, habituámo-nos aos brilharetes dos ciclistas colombianos nas etapas de montanha. Num país também apaixonado por patinagem e basebol, houve campeões olímpicos das mais diversas modalidades, desde a saltadora de atletismo Caterine Ibargüen (em 2016) a halterofilistas como María Isabel Urrutia (em 2000) e Óscar Figueroa (em 2016).