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Expo 98: a música que por lá se ouviu há 20 anos

Vamos lembrar o que se passou no contexto musical na Expo 98 que foi inaugurada há precisamente 20 anos.

Expo 98: a música que por lá se ouviu há 20 anos

Foi há 20 anos que começou a Expo 98. No recinto existiram 17 espaços cénicos vocacionados para acolher vários tipos de espetáculos. Curiosamente, quase 20 anos depois a zona oriental da cidade recebeu outro evento musical de dimensão internacional: o Festival Eurovisão da Canção.

De 22 de maio a 30 de setembro de 1998 a Expo dedicou-se ao tema: "Os oceanos: um património para o futuro" e atraiu cerca de 11 milhões de visitantes. Parte do seu sucesso ficou a dever-se à vitalidade cultural que demonstrou, chegando a ser considerada pelo BIE (o organismo internacional que elege as cidades a receberem as exposições) como a Melhor Exposição Mundial de sempre. O tema musical da exposição foi composto em 1996 por Nuno Rebelo e ganhou o nome de 'Pangea', o super-continente pré-histórico de onde derivaram os atuais. A música combinava cantares e instrumentos dos cinco continentes.

 

 

Para acolher os muitos espetáculos musicais que ali aconteceram foram criadas várias salas. O Teatro Luís de Camões - Sala Júlio Verne, localizava-se na área sul do recinto, próximo do Pavilhão dos Oceanos e do Pavilhão da Realidade Virtual. Este edifício, da autoria dos arquitetos Manuel Salgado e Marino Fei, foi concebido de acordo com as exigências da sua programação, isto é, com características cenográficas e acústicas e espaços auxiliares próprios para a realização de uma ópera, espetáculos de teatro e de variedades ou musicais. 

O Anfiteatro da Doca, vocacionado para grandes espetáculos de música, teatro, dança, moda e concertos multiétnicos, estava enquadrado no belo cenário natural da Doca dos Olivais. Por ali passaram, entre outros, Ney Matogrosso, Companhia de Dança Deborah Colker, Olívia Byington e João Afonso. Este espaço cénico contava com uma plateia para 1 800 espectadores, 900 dos quais sentados, tendo realizado 160 sessões para 281 070 pessoas.

Quem não se lembra da Praça Sony? Localizada no extremo norte do recinto da Expo 98, a Praça Sony ficou a dever o seu nome ao fornecedor oficial do ecrã gigante aí instalado - o Jumbotron. Durante a Expo, a Praça Sony foi palco de transmissões televisivas em direto, videoclipes e reportagens. Junto à Praça Sony existiu ainda uma zona com 14 bares de serviço permanente e uma enorme pista de dança. Ali os concertos foram, essencialmente, de música pop e rock. Por ali passaram nomes como Lou Reed, Garbage, BB King, Joaquín Cortez, Marisa Monte, Gabriel o Pensador, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Dulce Pontes, Savage Garden, Morcheeba, Xutos e Pontapés, Blind Zero, GNR, Delfins, Maria João e Mário Laginha, entre muitos outros. Albergou 235 sessões no palco principal, com 300 m2, 134 no palco Midnight Tea e 110 sessões autónomas de imagem no Jumbotron. O número total de espectadores ascendeu aos 2,3 milhões.

O palco Promenade foi dimensionado e projetado para a apresentação de formações musicais de maior porte, designadamente bandas ou orquestras, dança tradicional ou contemporânea e grandes grupos corais ou folclóricos. Recebeu todas as quintas-feiras, à meia-noite, o Festival de Guitarra Portuguesa, coordenado por Pedro Caldeira Cabral. Acolheu também, entre muitos outros, o Festival de Guitarra Portuguesa com António Chainho, Companhia de Dança Contemporânea de Angola, Las Malqueridas, Wagner Tiso, Barrio Ballet e Festival 1998 Lisboa Codex. Neste espaço cénico realizaram-se 304 sessões para 356 960 espectadores.

Pelo Palco 6, caracterizado pela presença da música alternativa portuguesa, passaram bandas de hip-hop, rock, pop, dance e outras tendências da música de expressão urbana. No Palco 6, com programação de Henrique Amaro e localizado no interior de uma esplanada na Frente Ribeirinha Norte, foram realizadas 129 sessões para 42 415 espectadores. O desafio, diz Henrique Amaro, foi enorme.
 

 

Henrique Amaro recorda que nessa altura, surgia, também, uma banda que mal tinha uma cassete para dar a conhecer. Será que alguém ainda se lembra deles?

 

 

Pouco depois de começar a festa, a 31 de maio, todos os espetáculos agendados tiveram de ser cancelados devido à chuva e vento fortes que se fizeram sentir. Perderam-se, assim, as atuações dos Delfins, que tinham planeado o concerto "Planeta Azul" no anfiteatro ao ar livre da doca, que prometia fazer uma viagem pelo céu, terra e mar, baseado em canções do álbum "Azul" - primeiro disco dos Delfins a ter lançamento internacional. Também a brasileira Maria Bethânia não saiu do hotel para um espetáculo no qual interpretaria poemas de Fernando Pessoa.

Já em junho, o cantor colombiano Carlos Vives, que recentemente voltou à ribalta devido ao dueto com Shakira, 'La Bicicleta', prometia animar com músicas da Colômbia. O concerto acabou por causar muita polémica e envolveu uma indemnização ao cantor de cerca de 897 mil euros (180 mil contos) porque foi cancelado. O motivo? Vives nem sequer chegou a concluir a primeira canção do concerto: uma sobrecarga de corrente elétrica queimou os amplificadores de som.

O Dia do Algarve, 4 de junho, é comemorado com as atuações do cabo verdiano Leonel Almeida, de Vitorino e dos Primitive Reason. A 13 de junho a atuação de Ney Matogrosso, no Anfiteatro da Doca, marca o Dia do Brasil na Expo 98. Durante o concerto, assinala-se um momento especial: a entrada do visitante um milhão no recinto da Expo! Fernanda Abreu atua no dia 14. No dia seguinte houve concertos de Mário Laginha e da Ala dos Namorados.

BB King também passou pela Expo com um concerto acompanhado da sua eterna "Lucille". Fator de grande surpresa foi o dueto que fez com Rui Veloso, embora já não fosse a primeira vez que tal acontecia. No final, B.B.King distribuiu pelos presentes alfinetes de lapela com réplicas da sua famosa guitarra, a "Lucille", que Rui Veloso garantiu ter oferecido ao avô, que a usou até morrer.

No ano em que Teresa Salgueiro foi mãe, os Madredeus atuaram várias vezes na Expo 98. A 21 de maio ouviu-se 'Haja o Que Houver', em dueto com José Carreras. Dia 17 atuaram na Praça Sony.

22 de junho era um dia muito aguardado já que no lado norte do recinto, na área aberta, desfilavam as Marchas Populares de Lisboa com apresentação de Fialho Gouveia. A expectativa era grande, o frio era muito, e uma falha na organização levou a que, exatamente à mesma hora, a Praça Sony abafasse o som típico das Marchas de Lisboa com os muitos watts debitados pelas guitarras de Dave Grohl e dos Foo Fighters, em palco.

Chega o dia 23 e o tão esperado concerto do grupo pop/rock norte-americano Garbage. Em Portugal, tinham conquistado um Disco de Prata; eram muito populares. A incendiária vocalista dava várias entrevistas onde se mostrava satisfeita com o rumo que o rock alternativo estava a tomar.

4 de julho e já muito calor em Lisboa. Na Expo 98 vive-se um dia tropical (Dia de Cabo Verde) com Cesária Évora e Tito Paris a fazerem vibrar a multidão que enchia a Praça Sony através de mornas e coladeras entoadas com o sentimento que celebrizou a "diva dos pés descalços". A 15 de julho, Dia Nacional do Kuwait, atua Rui Veloso na Praça Sony (ou vídeo-estádio, como os jornalistas mais puristas a descreviam), enquanto António Pinho Vargas atua no Palco Promenade.

17 de julho é o Dia Nacional da Jordânia na Expo 98 comemorado com um Festival de Música da CPLP. A 24 de julho, o Anfiteatro da Doca está por conta do português José Cid e, no mesmo dia, há música com a banda angolana Kussondolola, na Praça Sony. O Dia Nacional da Espanha, a 25, conta com uma gala pelo tenor Alfredo Kraus, acompanhado pela Orquestra Sinfónica de Madrid, no Teatro Camões. No dia 26, quando se cumprem metade dos 132 dias de duração da Expo e o Dia Nacional de Cuba, entra em cena a orquestra Ritmo Oriental, de La Havana, e a 27 o espetáculo espanhol "Nalaua". A 28 de julho atuam os Blind Zero num concerto onde dava a conhecer o álbum "Redcoast". A banda viria a tocar várias vezes na Expo quer na Praça Sony, quer no Palco 6, como lembra o vocalista, Miguel Guedes.

 

 

Para os Blind Zero a oportunidade de se mostrarem a um público tão abrangente está guardada entre as boas recordações. Já da Expo propriamente dita, as filas para os pavilhões e para os outros concertos ainda são assunto de conversa.

 

 

Mafalda Veiga mostra os seus talentos dia 29 na Praça Sony, onde no dia 30 Sérgio Godinho tem encontro com o público, convidando os Gaiteiros de Lisboa, Guto Pires, a Companhia Bengala e Da Weasel, numa jornada com a presença da brasileira Fafá de Belém.

Ainda em julho, um novo recorde de afluências da Expo-Noite foi batido na altura em que decorria o concerto de Caetano Veloso, Pedro Abrunhosa e Paulino Vieira, com a entrada de 35 455 pessoas, de um total de 94 993 em todo o dia.

Entramos em agosto e, no dia 3, ouvimos a brasileira Maria Bethânia que regressa à Expo, para atuar na Praça Sony, concerto que viria a repetir logo no dia 5, e no dia 7 há música tradicional galega com os Milladoiro que iniciam uma série de atuações na Expo, enquanto a "diva dos pés descalços", a cabo-verdiana Cesária Évora, dá concerto na Praça Sony, desta vez acompanhada por Marisa Monte, Dulce Pontes e pelo grupo de dançadeiras Finka Pé.

No dia 11, na Praça Sony tem lugar um concerto de solidariedade para com a Guiné-Bissau, com atuações de Dulce Pontes, Rui Veloso, Sara Tavares, Paulo Gonzo, Jorge Palma, Pedro Caldeira Cabral, General D, Cool Hipnoise, Tim, Filipa Pais, Guto Pires, Carlos Martins, Bernardo Sassetti, Camané, Angelo Torres e Miguel Hurst, revertendo o valor das entradas da Expo-Noite inteiramente a favor do povo daquela ex-colónia portuguesa.

A 18 de agosto, o cantor colombiano Carlos Vives volta à Expo 98. Desta vez teve muito público e correu tudo bem. No mesmo dia assiste-se a um concerto inédito do antigo baterista dos Beatles, Ringo Starr. Ali apresentou o seu álbum "Vertical Man", 16.º da sua carreira a solo, acompanhado pela All Starr Band. No dia seguinte há Luís Represas e um concerto de jazz com Mário Laginha (piano) e Maria João (voz). A 25 de agosto, e prestes a lançar o seu álbum "Taco a Taco", Amélia Muge dá um concerto na Expo 98 no qual tem como convidados Jorge Palma e o grupo búlgaro Pirin Folk Ensemble. Dia 29 é a vez de David Byrne no palco principal.

Chega setembro e no dia 14 o bailarino espanhol Joaquin Cortés brilha na Praça Sony. Um dia depois temos destaque por conta das atuações da Companhia de Dança de Olga Roriz, de Paulo de Carvalho, fado com Alexandra e Rodrigo, Festa Cigana e o concerto dos Zen. 23 de setembro de 1998 foi inesquecível para quem viu o concerto de Lou Reed, na Praça Sony, no mesmo dia em que o recinto voltou a acolher espetáculos de Sérgio Godinho, Manuela Azevedo, dos Clã, e General D.

Uma muralha de fogo de artifício nunca vista, com dois quilómetros de extensão por 140 metros de altura, e o ritmo vertiginoso do pai do rock n' roll, Chuck Berry, marcam a festa do fim da Expo, a 30 de setembro. O maestro António Vitorino de Almeida, ao piano, e Paulo Vaz de Carvalho oferecem melodias no Pianomóvel, em contraste com as  sonoridades africanas que se podem ouvir no Palco 3, pelo angolano Paulo Flores e os seus convidados Tito Paris, Nandinho, Ottis, Manecas Costa e Lura. A parede branca do Pavilhão do Conhecimento dos Mares é o pano de fundo para uma projeção da cronologia de Zeca Afonso nessa noite na qual também houve uma homenagem de músicos ao guitarrista Carlos Paredes.