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Hospital de Beja em risco por falta de médicos

O alerta foi dado por doze diretores do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, através de um manifesto intitulado "Porque não podemos, nem queremos, ficar indiferentes".

Hospital de Beja em risco por falta de médicos

Doze diretores de serviço do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, alertaram hoje para o "risco iminente de colapso nas urgências de Pediatria e Obstetrícia" e para a "absoluta carência de médicos" na unidade hospitalar.

Os diretores de serviço expressam as suas preocupações num manifesto público hoje divulgado e enviado à agência Lusa, intitulado "Porque não podemos, nem queremos, ficar indiferentes".

Os clínicos "manifestam a sua preocupação pela situação de absoluta carência de médicos para fazer face às necessidades assistenciais da população pela qual a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA) é responsável", pode ler-se no documento.

Em especial, os signatários alertam "para o risco iminente de colapso nas urgências de Pediatria e Obstetrícia e para as graves dificuldades que estão a passar a Anestesiologia, a Radiologia, a Cirurgia Geral e mesmo a Ortopedia?.

O manifesto é subscrito pelos diretores dos serviços de Psiquiatria, Fisiatria, Pediatria, Hematologia, Pedopsiquiatria, Medicina, Anestesia, Ortopedia, Obstetrícia, Hospital de Dia de Oncologia, Urgência e Patologia Clínica.

Contactado pela Lusa, o conselho de administração da ULSBA remeteu para mais tarde uma reação a este manifesto.

A diretora de Psiquiatria, Ana Matos Pires, explicou à Lusa que o documento foi subscrito por ?mais de metade dos diretores de serviço? do hospital de Beja, que são ?cerca de 20?.

?Este não é um manifesto contra ninguém. Não queremos ?apontar o dedo? ao conselho de administração do hospital, que é o primeiro a estar preocupado com estas situações?, mas é necessário ?pôr o assunto em cima da mesa e discuti-lo?, sustentou.

Segundo a médica, a ?absoluta carência de médicos é uma realidade nacional conhecida para todo o interior do país? e o Hospital José Joaquim Fernandes não é uma exceção, mas os problemas têm-se vindo a agravar.

?Existem dificuldades mensais na elaboração da escala de urgência? de Pediatria e Obstetrícia, devido ?à falta de clínicos?, mas também ?para a Urgência geral do hospital?.

E a Pedopsiquiatria, destacou, ?está em carência absoluta. Há uma pedopsiquiatra que é a única no Serviço Nacional de Saúde no Alentejo inteiro?.

A médica reconheceu que ?as soluções não são fáceis?, mas, com o manifesto, enviado para o Ministério da Saúde, Administração Regional de Saúde do Alentejo, Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL) e câmaras dos concelhos servidos pela ULSBA, os diretores querem mostrar que ?estão disponíveis para ser parte da solução?.

?A não abertura de concursos para recém-especialistas em 2017 e as dificuldades acrescidas de atrair e manter novos clínicos nesta região são problemas que urge discutir e tentar resolver?, em conjunto com as várias entidades, refere o manifesto.

?Em 2017, não abriram vagas nacionais para as especialidades hospitalares, abriu apenas um concurso para a Medicina Geral e Familiar. Se tivessem aberto, não sei se os médicos vinham ou não para Beja, mas a não existência destes concursos? significou, ?menos uma possibilidade de as pessoas virem para cá?, insistiu Ana Matos Pires.

Frisando que os signatários não abordaram, para já, a adoção de outras medidas, como a demissão, a diretora de Psiquiatria defendeu que os incentivos financeiros são ?uma questão importante?, mas não exclusiva, para atrair médicos especialistas.

Uma ?discriminação positiva? para os hospitais do interior que favoreça a qualificação dos clínicos e progressão na carreira, sem utilizar ?internos para ?tapar buracos? de necessidades? e com apoios ?à formação e à publicação de trabalhos em revistas internacionais?, é uma das medidas que Ana Matos Pires sugeriu.

?É preciso melhorar os serviços para lhes dar qualidade para poderem formar clínicos e, depois, incentivos económicos, mas não só, para que o jovem médico se fixe e opte por uma cidade do interior?, sublinhou, sugerindo também a disponibilização pelas autarquias de ?casas a preços mais baratos e em condições para jovens médicos?.