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Guns N' Roses em Algés: a Paradise City foi aqui

O grupo deu uma chuva de clássicos em Algés nesta sexta-feira, 2 de junho.

Guns N' Roses em Algés: a Paradise City foi aqui

Por alguma razão a digressão que os Guns N' Roses começaram agora na Europa se chama "Not In This Lifetime Tour". Muito provavelmente, nem os fãs mais devotos que há tantos anos aguardavam por um regresso em paz da banda de Axl Rose, acreditavam voltar a vê-los assim em tão grande forma (pelo menos musical).

De recordar que, no seu auge, o grupo de Los Angeles não deixou as melhores memórias aquando da sua passagem pelo Estádio José de Alvalade, em 1992, e, dez anos depois, também não ficou lá grande registo depois da atuação no Rock In Rio. Com tantas historietas, desavenças e boatos pelo meio, ver a formação clássica junta parecia mais difícil do que o emplastro ficar em casa no primeiro dérbi da época desportiva. Mas aconteceu... mais ou menos.

Com Axl Rose nas vozes e a agarrar-se bem ao registo vocal que lhe conhecemos, a formação continua a dar nas vistas com o impagável Slash e um muito envelhecido Duff McKagan no baixo, enquanto Dizzy Reed e Melissa Reese estão nos teclados e ela nas backing vocals, Richard Fortus, na guitarra, e Frank Ferrer, na bateria.


Com filas raramente vistas a entupirem o trânsito e os restaurantes ainda com o sol alto, Algés encheu-se de fãs e o Passeio Marítimo ficou lotado muito tempo antes da data marcada para o concerto. O vento forte e, caramba, as quantidades absurdas de pó no ar, faziam temer o pior na qualidade do som que, eventualmente, nos chegasse depois das 20h45. O som dos mornos concertos de Tyler Bryant & The Shakedown e de Mark Lanegan com a sua banda foram vítimas disso mesmo.

À hora marcada e, logo assim, a restaurar a fé dos fãs numa grande noite, os ecrãs onde o logotipo da banda já aparecia ao som de tiros de pistola, eis que uma breve introdução ao som do "Looney Tunes" foi suficiente para deixar todos em euforia. 'It's So Easy', do álbum de estreia "Appetite for Destruction", de 1987 abriu o espetáculo, quase todo pontuado pelos álbuns de maior sucesso dos Guns n' Roses: além deste, os famosos "Use Your Illusion I" e II. Em 'Chinese Democracy' Slash já dá nas vistas com uma guitarra verde brilhante e com 'Welcome To The Jungle' aparece a primeira grande manifestação do público a divertir-se a aplaudir.


Sem falhas nem interregnos mas também sem interação com os fãs, ouvimos 'Double Talkin' Jive' e 'Better' ainda antes de 'Live And Let Die' com o primeiro momento para Duff brilhar num solo onde se destaca o logotipo de Prince no instrumento que enche os ecrãs. Depois de 'You Could Be Mine' vem aquele que, curiosamente, muitos recordarão como um dos "grandes momentos" do concerto: 'This I Love' que não cabe na categoria de recordação porque integra o álbum mais recente, "Chinese Democracy", de 2008.

Apesar do aspeto físico a testemunhar que a idade não está a ser propriamente amiga das imagens que, na juventude, Axl, Slash e Duff nos cravaram na mente, o desempenho vocal e musical de qualquer um deles está bem acima daquilo que talvez fosse de esperar depois de tantas birras e lutas de egos.

Depois do tributo a Chris Cornell, o vocalista dos Soundgarden falecido em maio, num muito aplaudido, embora nem apresentado 'Black Hole Sun', segue-se o emocionante solo de guitarra de Slash. Igual a ele próprio, embora sem o típico cigarrinho ao canto da boca, de chapéu, óculos escuros, ténis, os vistosos anéis com caveiras, calças de cabedal e uma t-shirt com um esqueleto do rato Mickey, o músico impressiona pela mestria e rapidez com que dedilha as suas guitarras. Vê-lo a tocar os sons sobre os quais tantas vezes adormecemos e acordamos a pensar nos desígnios da vida, deve ser mais ou menos como ver Mark Zuckerberg a bater código: um mestre a fazer magia. O solo pega com o início frenético de 'Sweet Child O'Mine' - outra vez as antigas a saberem tão bem ouvir aqui.

Sem vozes, Slash, completamente alagado em suor, e Richard Fortus, fazem um solo de guitarra para o "carimbo" dos Pink Floyd, 'Wish You Were Here'. A este momento para deixar todos de queixo caído, Axl volta com nova farpela à moda do Texas (podia jurar que trocou mais vezes de outfit que a Jennifer Lopez) para se sentar ao piano e pôr-nos a trautear durante os próximos minutos a memorável 'November Rain' com o seu registo a "dois tempos" a ficar bem marcado e exemplarmente executado. De vez em quando sabe bem ouvir uma exatamente como a conhecemos no CD. 'Knockin' on Heaven's Door' e 'Nightrain' fecham a atuação que, claro, só termina depois de um curtíssimo encore.


Depois de se ter libertado do gesso na perna que o manteve colado a uma cadeira quando veio com os AC/DC a Portugal há pouco mais de um ano, Axl Rose é um showman que, agora, não arreda pé antes das três horas de concerto. Se é para sarar feridas, que não fique hipótese de se voltarem a abrir. Ainda que ele seja todo um foco de atenção, garantidamente que sem Slash o recinto estaria mais vazio porque é, também ele, boa parte do ADN da banda e, mais ainda, uma figura que tem tanto de misterioso como de divertido. O público, maioritariamente composto por quem já passou a barreira dos 30, não se poupou a imitar o estilo Guns: centenas de t-shirts da atual digressão europeia, é certo, mas também muitos lenços "à moda dos anos 90" na cabeça, correntes, anéis, alguns chapéus de Slash, cabeleiras e algumas guitarras quer improvisadas em cartão, quer insufláveis, divertiram os fãs mais atentos. Hoje em dia é evidente a falta de química humana entre Axel e Slash, embora o cantor o procure uma ou outra vez durante o concerto.

Para o encore ficaram guardadas mais duas das "grandes": 'Patience' e 'Paradise City', sem faltar 'Whole Lotta Rosie', dos AC/DC. Sem grandes despedidas, apenas a vénia coletiva a esclarecer que já não havia mais, os Guns rumaram novamente a Espanha para, neste domingo, atuarem em Madrid. Para os fãs portugueses ficou a dececionante fila de hora e meia para se chegar ao centro de Algés onde quer que seja e, aí sim, retomar a viagem para casa. De coração cheio. Embora tivessem faltado para quem os tnato ouviu nos anos 90 'Used To Love Her', 'Don't Cry' (que ainda por cima o pórtico de entrada lembrava) e 'Since I Don't Have You'.


 
De referir ainda que o concerto teve todo o frenesim associado a uma atuação de estádio: grandes ecrãs, pirotecnia e imagens feitas à moda de uma atuação rock.

Fotos: Nuno Fontinha

Artigo de opinião