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SL Benfica - FC Porto: dez partidas históricas

De César Brito a Kelvin. Na véspera do jogo do ano, recordamos grandes embates do passado.

SL Benfica - FC Porto: dez partidas históricas

Na véspera daquela que é o jogo do ano, entre Benfica e Porto, na Luz, fazemos uma viagem ao passado que começa em 1978, o ano de viragem, em que a equipa azul-e-branca se afirma como o grande rival das águias. Desde então, Porto e Benfica ganharam 34 dos 39 campeonatos - com maior vantagem para os dragões.

Os duelos entre aquelas que têm sido as duas grandes superpotências futebolísticas dos últimos 39 anos tornaram-se muitas vezes uma espécie de Guerra Fria demasiado táctica, entre dois adversários que se temiam. Tem havido muitos empates nulos mas também muitas partidas épicas recheadas de golos. Recordamos em baixo dez partidas especiais.

1977-78 > Porto - Benfica 1-1
A tarde de glória portista de 28 de Maio de 1978, que acabaria de vez com o fado dos dragões de terceiro grande, nem sequer começou bem. Na primeira parte, logo aos 3 minutos, o defesa portista Simões intercepta mal um lançamento do benfiquista Bastos Lopes, tão mal que acaba na própria baliza. E podia ainda ter ficado pior a meio da segunda parte, quando Shéu faz um arranque pela esquerda de onde teleguia a bola para os pés de Humberto Coelho, que só não fez abanar as redes por causa da instintiva perna direita do guardião portista Fonseca e, a seguir, da milagrosa barra. Minutos depois, na noutra baliza, veio a recarga de Ademir a um livre portista que levou o apinhadíssimo Estádio das Antas à loucura. Era o prémio merecido para a omnipresença em campo da estrela portista António Oliveira. O 1-1 foi do agrado dos da casa. O sonho do treinador portista (ferrenho) José Maria Pedroto em quebrar o longo jejum de 19 anos de títulos de campeão concretizar-se-ia a 11 de Junho, diante do Sporting de Braga. Houve São João mais cedo.
 

 

1982-83 > Porto - Benfica 0-0
A peça televisiva do vídeo em baixo retrata, no melhor e no pior, uma época que já não volta: portistas e benfiquistas em confratenização ao redor do estádio, ou as comitivas das duas equipas a terem que furar a multidão a pé para entrarem no estádio.
Nas quatro linhas, o Porto dominou. O dono da baliza benfiquista Bento, sempre ao seu estilo, foi vilão e herói. Já com a bola em suas mãos, foi ele que rasteirou dentro da área o portista Walsh, provocando o penalty que o próprio defende; e o goleador Gomes (Bota de Ouro nesse ano) leva as mãos à cabeça. Mas o empate final foi do agrado ao fortíssimo Benfica de Erickson (no seu primeiro ano) que se tornaria campeão sem mácula.     
 

 

1986-87 > Benfica - Porto 3-1
A grande noite de glória de Rui Águas é o do seu bis contra o Steaua de Bucareste a 20 de Abril de 1988 que permite levar o Benfica de volta a uma final da Taça dos Campeões Europeus, vinte anos depois. Mas a sua tarde de glória mais inspirada aconteceu um ano antes, a 4 de Janeiro de 1987, com um hat-trick que permitiu ao Benfica um triunfo decisivo para o título de campeão. E do outro lado, estava só a equipa que tornaria campeã europeia quatro meses depois, onde jogavam Gomes, Futre, Madjer ou o capitão João Pinto.
 

 

1989-90 > Benfica - Porto 0-0
Com Rui Águas agora do outro lado da barricada, pertenceu-lhe a ele uma das duas oportunidades de golo de um jogo demasiado táctico para ser entusiasmante. Vivia-se a era da escassez de golos e os empates nulos entre os dois rivais estavam a banalizar-se. Este 0-0 serviu ao FC Porto, que seguiu líder, até ao desejado título de campeão.
 

 

1990-91 > Porto - Benfica 0-2
Em cinco anos (em dois períodos diferentes) no Benfica, não houve jogada tão valiosa de banco do treinador sueco Ericksson como o do lançamento de César Brito para os minutos finais deste jogo que o imortalizou e que decidiu o título de campeão. Em dez minutos em campo, o avançado serrano marcou os dois golos mais importantes da sua vida e do campeonato nacional 1990-91, que foi direitinho para as mãos benfiquistas. O Benfica de puro contra-ataque foi a equipa mais perigosa neste jogo, na primeira vitória benfiquista nas Antas em 14 anos para o campeonato. O jogo foi marcado pelo ambiente de tensão - com faixas na bancada portista como "Morte aos Mouros" - e pelas queixas benfiquistas contra o guarda Abel e contra o cheiro a cachaça no balneário que obrigou a formação das águias a equipar-se no corredor.   
 

 

1991-92 > Benfica - Porto 2-3
O jogo marcava o fim de uma era em que os clássicos ainda eram disputados à tarde, sem transmissão televisiva, e com a tradicional invasão de dezenas de milhar de portistas à Luz que faziam da Segunda Circular um espaço de piqueniques e de festa.
E festa azul-e-branca foi o que houve no final do jogo do ano, depois de uma segunda parte de loucos de golo cá golo lá, cinco ao todo, depois de uma primeira parte seca. O médio romeno Timofte, com apenas Neno pela frente, marca o golo final de vitória. A equipa de Domingos, Kostadinov e Fernando Couto faria a festa nos Aliados semanas mais tarde.
 

 

2002-03 > Benfica - Porto 0-1
O super-Porto de Mourinho foi demasiado forte para o Benfica de Camacho que até vinha de uma boa fase. Deco estava uma máquina e foi dele o golo fatal que desnivelou ainda mais o campeonato a favor dos portistas num ano de tripla: Liga Portuguesa, Taça de Portugal e Taça UEFA.  
 

 

2011-12 > Benfica - Porto 2-3
Encontro entre duas grandes equipas. De um lado, o Benfica de Aimar, Gaitán, Cardozo, Garay e Witsel. Do outro, o FC Porto de Lucho González, João Moutinho e de Helton. E de Hulk, que mandou uma das suas bombas para as redes benfiquistas. E do substituto James Rodriguez que, mal entrou no jogo, ajudou a virá-lo para alegria dos dragões. O Benfica entregava a liderança ao rival, que jamais a perderia.  
 

 

2012-13 > Porto - Benfica 2-1
A 2 de Maio, quando se festejava na Luz o apuramento do Benfica para a final da Liga Europa, as águias pareciam estar a caminho de uma época memorável. Quatro pontos de avanço sobre o 2º classificado a três jornadas do fim, e presenças nas finais da Liga Europa e da Taça de Portugal. Mas na segunda-feira, 6 de Maio, uma nuvem cinzenta abate-se sobre a nação benfiquista, com o empate em casa contra um inspirado Estoril Praia (treinado por Marco Silva). A vantagem passa a ser só de dois pontos. E onde era a jornada seguinte? No terreno do perseguidor, o Porto, que de repente passava a acreditar no Tri.
Para jogo do título, a segunda parte estava bem morna... Até aos 80 minutos, quando Cardozo desfere um livre traiçoeiro que manda a bola rasteira (ao contrário do que lhe era habitual), com direcção e força (isso sim, um hábito). Mas Helton estava lá e adivinhou-lhe o truque. Logo a seguir, o guardião do violão virou-se para os céus em agradecimento. Talvez tivesse pressentido o destino que lhes esperavam.
Minuto 92, quando o Benfica estava a conseguir arrefecer o jogo ao seu jeito, perde a bola no seu meio-campo ofensivo para os azuis-e-brancos que, rapidamente entregam o esférico para o famigerado Kelvin, que tabelando com Liedson, leva o Dragão à loucura e Jorge Jesus ao chão com o seu pontapé em cheio para o fundo da baliza de Artur. Raramente alegria e tristeza se extremaram tanto na história da Liga Portuguesa como naquele minuto 92. O Porto foi campeão, o Benfica teve um decepcionante jejum (perdendo tudo o que esteve quase para ganhar). E o feito de Kelvin merece hoje no museu portista um Espaço K.  
 

 

2013-14 > Benfica - Porto 2-0
Com a morte do Rei ainda bem recente, onze jogadores do Benfica vestiram as camisolas com o nome de Eusébio e homenagearam-no com uma exibição de luxo e uma vitória incontestável, iniciada logo bem cedo pelo remate-canhão do avançado Rodrigo e sublinhada já na segunda parte com o feliz cabeçeamento do central Garay. O Estádio da Luz, coberto de luto, ganhou outra cor. E o Benfica arrebitou, para um campeonato que seria ganho com sete pontos de avanço sobre o Sporting e 13 sobre o Porto. A homenagem devida ao Rei Eusébio e ao capitão Coluna (que também morreu nesse ano) foi feita.
 

 

Timeline: Paulo Rico

Textos: Gonçalo Palma