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Viagem ao Uruguai: do mate aos lobos marinhos

Revista ao futebol do país, do panorama atual à sua gloriosa história, e à sua cultura (música, gastronomia e demais atrações).

Viagem ao Uruguai: do mate aos lobos marinhos
DR/Associated Press

Muitos ainda se espantam que um país tão pequeno como o Uruguai tenha sido bicampeão do mundo de futebol, ou que seja um dos berços do tango. O que não deve motivar tanto espanto é que a equipa celeste tenha argumentos para disputar o favoritismo com Portugal no Grupo H.

Cuidado com os nossos carrascos de 2018
Sem grandes abundâncias, a La Celeste sempre teve o talento suficiente para formar um onze bastante competitivo. Lentamente a ganhar o seu lugar na seleção está o nosso conhecido Darwin Núñez, o antigo goleador do Benfica, que foi o melhor marcador do campeonato português na época passada. Hoje ainda está a tentar afirmar-se no Liverpool. Mas, dos 26 uruguaios no Catar, há mais caras bem conhecidas como o central sportinguista de há muito Sebastián Coates e, guardado no banco uruguaio, o jovem médio leonino Ugarte.

Há três jogadores da seleção celeste que estão a caminho do seu quarto mundial. A famosa dupla de pontas-de-lança Luis Suárez (hoje no Nacional de Montevideu) e Cavani (a jogar há meses no Valencia) ainda está aí, mas para as despedidas, com uma influência na equipa em curva descendente, tal como o defesa Godín (ligado agora ao Vélez Sarsfield). Os três estão a passar o testemunho aos mais novos. E dessa nova ordem, emerge o multi-usos do meio-campo Federico Valverde, nº15 do Real Madrid, que é pau para toda a obra: recupera bolas, tem motor de arranque de topo de gama na condução do esférico e sabe bem rematar de longe para o fundo de baliza. Outra grande figura uruguaia do centro do campo é o jogador do Tottenham, Bentancur, perito nos cortes de bola e com jeito para cabecear para golo se for necessário, como recentemente o demonstrou frente ao Sporting, na Liga dos Campeões. Outro médio elementar tem feito carreira na América do Sul, falamos de De Arrascaeta, há vários anos no Flamengo e grande ajuda para a conquista de duas Taças do Libertadorres nos últimos quatro anos para o gigante carioca.

 

Os pequenos grandes
O Uruguai é o mais pequeno e menos populoso (cerca de três milhões e meio) que é campeão do mundo de futebol. Perdão, bicampeão do mundo. O palmarés é até de fazer inveja a nações bem mais respeitadas como Espanha, França ou Inglaterra. Aos dois títulos de campeão de mundo, juntam-se dois títulos de campeão olímpico em 1924 e em 1928 (quando ainda participavam os melhores e o futebol ainda não tinha campeonato do mundo) e o recorde de 15 Copas América (igualado pela Argentina e acima do Brasil).
 
Contra-argumentam os uruguaio-cépticos que a grandiosidade da seleção celeste é de um tempo em que o futebol internacional estava a dar os primeiros passos. Mas não foi há muito tempo que o Uruguai atingiu a quinta meia-final de um campeonato do mundo, em 2010, com a ajuda de cinco golos de Diego Forlán. E foi só há sete anos que venceram a última Copa América (o Brasil e a Argentina não são campeões sul-americanos há mais tempo).
 
Além de simultaneamente primeiros anfitriões e vencedores de um campeonato do mundo em 1930, causaram o grande choque de um Mundial, na edição de 1950, em plena casa do Brasil, ao silenciarem os duzentos mil torcedores canarinhos no Estádio do Maracanã, com a vitória de 2-1, no jogo decisivo do título. A escapadela a 11 minutos do fim do avançado uruguaio Ghiggia pelo seu flanco direito, que termina com um remate furtivo para as redes brasileiras, valeu o título de bicampeões do mundo ao Uruguai e a primeira lição a todo o planeta de que não há vencedores antecipados.
 
Mas o sucesso internacional do futebol uruguaio também encontra paralelo nos dois grandes clubes de Montevideu: o Penãrol (cinco vezes vencedor da Taça dos Libertadores e três vezes campeão intercontinental) e o Nacional (três Taças dos Libertadores e três Taças Interncontinentais) têm palmarés de gigantes internacionais. Nada mau para um país que é o segundo mais pequeno da América do Sul.
 


 
Um dos berços do tango
Não é tanga dizer que o Uruguai é um dos berços do tango - género musical também semeado no outro lado da foz do rio de la Plata, em Buenos Aires, tal como o mundo sabe. A elegante e apertada dança aos pares, perfumada sonoramente pelo acordeão, pelo piano e por violoncelo e violino, também se propagou pelos clubes e bairros pobres de Montevideu.

O movimento latino-americano de cantores de intervenção da Nueva Canción, contra as ditaduras militares dominantes, também teve os seus expoentes no Uruguai, em particular Daniel Viglietti (1939-2017), talvez o maior cantautor do país, que teve que enfrentar a prisão política e o exílio nos anos 1970. Lá fora, o músico mais reconhecido de hoje é o multifacetado Jorge Drexler, já oscarizado na categoria de Melhor Canção Original em 2005, no filme "Diários de Che Guevara".

 


Cheers, mate!
O grande produto local, que une amigos uruguaios em rodas e em cavaqueiras, é o mate, uma bebida de água aquecida em erva moída numa pequena cabaça (muitas vezes, de madeira), que é sorvida num tubo metalizado chamado de bombilla. A bebida aromática, a que os brasileiros chamam de chimarrão (muito consumida também pelos gaúchos), provém da cultura índia. É hábito os uruguaios andarem pelas ruas sempre de termo e com o restante kit para o mate. No que concerne a outras bebidas, o Uruguai tem vindo a sofisticar-se em matéria de vinhos, sabendo aproveitar o transplante transatlântico de videiras europeias, entre as quais do Alvarinho (da Galiza e do Minho), dado origem ao reputado Albariño uruguaio.   

A gastronomia uruguaia é de tal forma herdeira direta da gastronomia europeia que é difícil identificar um grande prato tipicamente uruguaio. Entre as influências exteriores, contam-se a portuguesa e brasileira, nomeadamente nas feijoadas (muito populares no Uruguai) e nos pratos de bacalhau seco e salgado.

 

 

Oceanário a céu aberto
O Uruguai é conhecido na América do Sul pelas suas estâncias balneares (marítimas e fluviais). Mas a grande atração histórica é a Colónia de Sacramento, antigo entreposto colonial português que merece o estatuto de Património da Humanidade - um conjunto de ruínas e de edifícios antigos, com algumas ruas pitorescas de um outro tempo.

Outro local uruguaio com estatuto especial, de Reserva Natural, é a pequena Isla de Lobos, com a maior colónia de lobos marinhos do mundo ocidental (250 mil) e uma colónia de 15 mil leões marinhos. Também por mares uruguaios, costumam ver-se baleias, tubarões e golfinhos.