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Viagem à Croácia: maravilhas da costa adriática

Modric ainda é um génio da bola, Perisic continua a ser uma dor de cabeça para as defesas contrárias.

Viagem à Croácia: maravilhas da costa adriática
DR/Associated Press

Os antecedentes da Croácia sentem-se naquele património humano debruçado sobre o Adriático, de que Dubrovnik é modelo. Mas há ainda uma história futebolística bem bonita que continua a ser escrita pela seleção, depois do melhor Mundial de sempre, com um 2º lugar em 2018 ou, noutro sinal de força recente, o apuramento para a final four da Liga das Nações, deixando para trás um colosso como França, com a ajuda da vitória em Paris por 1-0. Quem supera os gauleses não tem que temer a favorita do grupo F, Bélgica. 

Prontos para novo sonho 
Dois dos astros responsáveis pela fantástica campanha da Croácia no Mundial de 2018, continuam a ser elementares na equipa do país dos Balcãs, apesar de já não serem novos. O veterano de 37 anos Luka Modric, há mais de dez anos a fazer magia no Real Madrid, é um génio todo-o-terreno, que é implacável nos cortes de bolas, um acelerador dos ataques e um construtor de vias rápidas para os golos. Quando é ele próprio a marcar, cada golo seu arrisca-se a ganhar o Prémio Puskas de Melhor Golo do Ano, ele que já está rotinado a vencer prémios e que foi o Bola-de-Ouro de 2018. Ivan Perisic é o outro grande herói do Mundial de 2018 que continua a ser um ativo fundamental para a Croácia. Hoje com 33 anos e no Tottenham depois de tantos anos no Inter de Milão, continua a ser um atacante letal que troca as voltas aos seus adversários com o seu jeito para jogar com os dois pés. Os médios Brozovic (do Inter de Milão) e Kovacic, tetra-vencedor da Liga dos Campeões, a última delas pelo seu atual clube Chelsea, são outros vice-campeões mundiais de 2018 que continuam a fazer do 11 croata uma equipa vencedora. Entre os que estão a assegurar a renovação estão os defesas polivalentes na Bundesliga, Josip Stanišic, do Bayern de Munique, e Josko Gvardiol, do RB Leipzig.

 

Estreia em grande num Mundial
Prosinecki, Boban e Suker: estes são três dos grandes jogadores que participaram na excelente campanha da seleção croata, com um 3º lugar no Mundial de 1998, numa caminhada que teve como um dos picos de mérito uns expressivos 3-0 que puseram a Alemanha de fora, nos quartos-de-final. Suker tornou-se mesmo o melhor marcador do Mundial, com seis golos, numa estreia em grande da Croácia na competição.
 
É no país que está uma das maiores rivalidades internas da Europa, entre o Dinamo Zagreb e o Hadjuk Split. Ambos os clubes eram dois dos quatro grandes da antiga Jugoslávia, a par dos sérvios Partizan de Belgrado e Estrela Vermelha. Quer o Dinamo e o Hadjuk ganhavam tudo o que havia para ganhar no antigo Estado do general Tito - o Dinamo chegou a vencer uma Taça das Feiras (que chamar-se-ia mais tarde de Taça UEFA) em 1967. Com a Croácia independente e já com uma liga própria desde os anos 90, o Dinamo Zagreb tem tido um domínio avassalador.  

 
Tamburica
A tamburica é o instrumento mais conhecido, de várias dimensões e formas, desde o pequeno do tamanho de um bandolim a um bem maior, tão volumoso quanto um contrabaixo. O instrumento é herdeiro da influência otomana, similar ao turco saz, e atrai muitas vezes ensembles. Quando a Croácia estava a ser bombardeada pelos sérvios na Guerra dos Balcãs, músicas com bandas de tamburica estavam a ser passadas patrioticamente.
 
Mas há mais instrumentos característicos como o diple, gaita-de-foles popular em Istria e na costa da Dalmácia. Também na Dalmácia há a tradição dos coros masculinos conotados com o klape.

 
Mariscada com vista para o Adriático
A cozinha croata é tão diversificada e com influências tão diferentes - turca, húngara, austríaca ou mediterrânica - que é difícil encontrar um prato que una este jovem país. Como é normal, no interior come-se mais carnes. Junto à costa do Adriático, predomina mais o marisco e o peixe. Mas há dois pratos conhecidos e cozinhados em todo o país. A pasticada é um bife que é sempre melhor comido nalguma casa da Dalmácia do que num restaurante, por requerer longos preparativos, desde marinada em vinagre de um dia para o outro, a um refogado cuidado, que inclui vinho tinto croata. A peka, que pode ser de polvo ou de carne de cordeiro ou de vitela, é cozinhada lentamente numa tampa fechada em forma de sino, coberta de brasas, numa fogueira. Algumas destas formas de cozinha são milenares e já se praticavam nos tempos do Império Romano.
 
Da costa norte, Istria, junto à Eslovénia, vem uma das sopas mais reconhecidas, a manestra. Trata-se de uma sopa de feijão cozinhada em lume brando, que leva normalmente milho e repolho e que no final tem alguns acrescentos como pedacinhos de presunto. Já o peixe e o marisco aninham-se na maioria dos pratos das regiões junto ao Adriático. A muito popular (de norte a sul) buzara salteia marisco (camarões, mexilhões e amêijoas) com alho, azeite, salsa, pão ralado e vinho branco, e às vezes é avermelhado com molho de tomate. Mais para norte, há o crni rizot, que é um risotto escurecido com marisco, sobretudo amêijoas. Na costa sul, é apreciado o brudet, que é o que chamaríamos de ensopado de peixe. Em termos de entradas, os strukli são pastéis de queijo glorificados em Zagreb.
 
Os croatas também gostam de doces. Populares em toda a costa são as krostules, que se assemelham às nossas filhoses, e as fritules que são bolinhas fritas (muitos recorrentes na época natalícia) feitas de farinha, passas, raspas e um toque de aguardente local. Mais abaixo, na região de Dubrovnik, a rozata é um pudim de creme que remata muitas refeições.
 
Tal como muitos dos cozinhados croatas, também o vinho tem uma tradição milenar. A geografia seca típica do sul da Europa favorece a produção vinícola. Curiosamente, há mais brancos que tintos. Na região costeira, destacam-se os vinhos de Istria (de Malvazija) e da Dalmácia; na zona continental, têm renome os vinhos de Plesivica e da Eslavónia.

 
Costa histórica  
A costa croata tem um património humano recheado de cidades históricas e milenares, praticamente instaladas sobre o mar, em ilhas ou em penínsulas, com as suas calçadas apertadas e inclinadas, escadarias e arcos, igrejas antigas e ruínas romanas (muitas vezes anfiteatros). As praias de mar tão azul estão por todo o lado e a envolvência de montanhas só embeleza ainda mais o cenário. De todas estas cidades, a que mais turistas atrai é Dubrovnik, apelidada de Pérola do Adriático, mesmo no sul, próximo da Sérvia. Split, Korkula, Pula, Rovinj e Zadar são outras pérolas humanas vereneantes que respiram história. Lá para o interior, destacam-se os parques naturais, sobretudo o de Plitvice, autêntica maravilha natural da Europa. É um cruzamento de 16 lagos de diferentes cores (turquesa, cinzento, verde) e de cataratas, que podem ser percorridos em lindíssimas passadeiras de madeira. De inverno, o parque é igualmente fascinante, todo esbranquiçado de neve e em gelo.
 
Tal como as outras nações ex-jugoslavas, a Croácia é um país de grandes desportistas, de tal forma, que se torna difícil encontrar uma modalidade coletiva onde não sejam competitivos. O basquetebol é uma paixão quase tão grande como o futebol. A Croácia foi dos países europeus a exportar mais talentos para a NBA nos anos 80 e 90 como Toni Kukoc (dos Chicago Bulls), o prematuramente falecido Drazen Petrovic (dos Portland Trail Blazers) ou Dino Rada (dos Boston Celtics). Esta geração disputou a final olímpica de 1992 com a famosa dream team norte-americana - claro que a Croácia teve que se contentar com a prata. Jogos de mãos é mesmo com os croatas, seja em piso térreo, ou em piscina. No andebol, a seleção masculina já foi campeã olímpica por duas vezes (em 1996 e em 2004) e garantiu um título mundial (em 2003). No pólo aquático, a seleção masculina já saboreou todos os grandes títulos internacionais: medalha de ouro olímpica em 2012, campeões do mundo em 2007, campeões europeus em 2010 e uma presença recorrentes nos pódios. Nos courts, o maior herói foi o temperamental Goran Ivaniševic, tão bom nos serviços quão mau no fair-play. Ganhou o torneio de Wimbledon em 2001 e chegou a ser nº2 do ranking mundial. Mas foi nas montanhas de neve que passou a maior atleta olímpica de sempre da Croácia, referimo-nos a Janica Kostelic, tetracampeã olímpica em esqui alpino no início deste século.