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João Só: "se não dermos valor às pequenas coisas, perdemos metade da vida que está à nossa volta"

O músico, fã confesso dos Beatles, chega com novo disco. "Nada é Pequeno no Amor" é o quinto da discografia que assina.

João Só: "se não dermos valor às pequenas coisas, perdemos metade da vida que está à nossa volta"

 

João Só escolheu outubro para lançar "Nada é Pequeno no Amor" - o quinto disco da carreira que leva e que soma mais de dez anos. O disco já está disponível em formato físico e digital. A edição em vinil sai a 28 de outubro.

João Só assina as letras, a composição e a produção do novo registo que agrega dez faixas, entre as quais 'Quem Diria', 'Primeira Pedra' e 'Olha Para Mim', temas que, entretanto, ganharam estatuto de single. 

"Nada é Pequeno no Amor" vai ser apresentado ao vivo a 24 de novembro no Teatro Maria Matos, em Lisboa, e no dia 1 de dezembro na Casa da Música, no Porto. Os bilhetes estão à venda nos locais habituais. 

"Talvez seja redutor chamar-lhe 'álbum' porque esta é (como o título anuncia) uma imensa carta de amor. O amor de um homem, que é pai e marido, mas também o amor de um compositor por esse tremendo e inabalável monumento que é o rock - sem esquecer o amor imenso que liga um músico ao seu instrumento. Para lá de qualquer vestígio de intimidade, este é um disco profundamente íntimo, onde João Só se expõe como nunca antes. Os primeiros acordes e as primeiras palavras deixam evidente que esta profissão de fé vai ser contada na primeira pessoa", descreve o comunicado que chegou à redação. Palavras que, em boa hora, serviram de ponto de partida para a conversa que se seguiu:

Chegas com o disco "Nada é Pequeno no Amor". Porquê este título?


O título surgiu por causa de um post-it que o meu sogro deixou no espelho da casa de banho. Um dia destes, entrei na casa de banho dos meus sogros e deparei-me com essa frase. O meu sogro costuma deixar muitas frases desse género. E, atenção, não são frases feitas, são frases muito bonitas. Ele é uma pessoa muito inspiradora. É médico radiologista, não tem telemóvel, vai de bicicleta para o hospital e para o consultório, trabalha que se desunha e tem cinco filhos. Quando vi essa frase no espelho pensei que, de facto, nós andamos sempre a correr de um lado para o outro. Aquela frase deixou-me a pensar. Sei que, por vezes, sou um bocado megalómano e um pouco consumista. Tenho consciência de que nem sempre olho para as pequenas coisas como deveria olhar.



Apesar de já ser um cliché falar da pandemia, a verdade é que a quarentena fez com que visse o crescimento dos meus filhos em tempo real. Isso obrigou-me a olhar para a vida de uma forma ligeiramente diferente. Foi por essa razão que pus em stand-by o disco que estava a fazer e comecei a fazer outro. Este álbum inclui uma série de elementos do quotidiano, desde sons da máquina de lavar loiça à voz do meu filho Francisco nos coros. Deixei ficar estes pormenores porque gosto dessa sensação de familiaridade nos discos. Não sou muito rígido nos tratamentos acústicos. Acho mais graça a algo que seja imperfeito mas que, ao mesmo tempo, seja bonito do que a algo que seja perfeito mas não tenha raça.         

Há alguma ligação entre as várias faixas do disco?


Há um tema - a canção 'O Que Foi Não Volta a Ser' - que escrevi para o meu filho Nuno, perto da altura em que nasceu. É uma das canções mais antigas do álbum e acaba por ligar todas as outras. O resto do álbum foi feito com a premissa de contar a minha história, expor as minhas reflexões e partilhar as minhas memórias.  

João Só sobre a influência do Rui Veloso na música que faz:
 

 


A faixa que abre o disco - 'Primeira Pedra' - fala precisamente das tuas influências musicais quando eras mais novo, sendo que, a dada altura do álbum, passas para o teu papel enquanto pai...

O Paul McCartney dizia uma coisa engraçada. Dizia que o verdadeiro rock n' roll era casar e ter filhos. Quando ele se mudou para a Escócia, na altura em que começou com as primeiras digressões dos Wings, andava com os filhos (e com os professores dos filhos) "às costas". Eu também gosto muito de levar os meus filhos para os meus concertos. [O Nuno e o Francisco] sobem imensas vezes ao palco embora, por vezes, fiquem envergonhados. Gosto genuinamente desses momentos. Não quero expor os meus filhos em demasia nas redes sociais, por exemplo, mas acho que faz sentido estarem presentes nos concertos. Eles gostam muito de música e gostam de estar perto de mim quando estou a fazer música.


"Nada é Pequeno no Amor" é mesmo uma carta de amor e a vários amores...

Sim, claro. Este disco é o espelho de quem eu sou nesta altura. Considero-me um homem apaixonado e bem resolvido, embora saiba que a vida partilhada nem sempre é um mar de rosas. O disco mostra a delícia que é estar atento às pequenas coisas, como, por exemplo, ver um cão ladrar ao meu filho e o meu filho ladrar de volta. (risos) Se não dermos valor às pequenas coisas, perdemos metade da vida que está à nossa volta. Este disco é uma declaração de amor nesse sentido. É sobre aquilo que construí com a minha mulher [Mafalda] e com os meus filhos. É sobre a adaptação da minha vida familiar à minha vida de músico.

João Só sobre as sessões de gravação do álbum:

 



Dizes que este álbum é o teu maior desafio musical. Em que sentido?

Eu insisto numa coisa - e nisso tenho como grandes parceiras as rádios mais mainstream que passam as minhas músicas. Insisto em fazer canções ditas normais. Falo de canções com instrumentos - com guitarras, piano, bateria. É um grande desafio. Por exemplo, admiro muito os Quatro e Meia por isso mesmo. Além de trabalhar com eles na produção, admiro-os por terem essa sonoridade mais clássica e por insistirem na certeza de que há mercado para essas canções. Há pessoas que gostam de aprender a tocar esse tipo de canções. Gostam de tocar as músicas, à viola, nos campos de férias, ou até de ensinar as canções aos irmãos. O legado que quero deixar é esse. Foi assim que cresci musicalmente: a aprender a tocar a música dos outros. Gosto de compor canções que sejam fáceis de aprender. Muitas vezes, os temas são difíceis de fazer mas acabam por ser fáceis de aprender. Esse é o meu grande desafio musical.  

João Só sobre a devoção que tem aos Beatles:


João Só vai apresentar "Nada é Pequeno no Amor" no próximo dia 24 de novembro, no Teatro Maria Matos, em Lisboa. No dia 1 de dezembro, o músico atua na Casa da Música, no Porto.

O que é que estás a preparar para os concertos?

Será algo parecido com um jantar com amigos, mas já naquela fase em que o jantar dá lugar às guitarras. Vou ter alguns convidados. Em Lisboa, vou ter a Nena, o Tiago Nogueira (Os Quatro e Meia) e a dupla Miguel Costa e João Baião [dupla alentejana que concorreu ao programa The Voice]. O concerto do Porto vai ter a presença da Nena, do Tiago Nogueira e do Miguel Araújo.