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Dino D' Santiago soma três Play numa noite marcada pela urgência na defesa da cultura

"Ninguém fica para trás" foi a frase mais aplaudida numa noite que será lembrada pela defesa dos trabalhadores do setor da cultura. Foi a entrega dos prémios da música portuguesa.

Dino D' Santiago soma três Play numa noite marcada pela urgência na defesa da cultura
Rúben Viegas

Esta noite, foram conhecidos os vencedores da 3ª edição dos Play - Prémios da Música Portuguesa. A cerimónia teve lugar no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e foi transmitida pela RTP e na plataforma RTP Play. A apresentação ficou nas mãos de Filomena Cautela e de Hugo Van Der Ding.

Dino D'Santiago foi o grande vencedor da noite que celebrou a música portuguesa. O músico algarvio recebeu três estatuetas: Melhor Artista Masculino, Melhor Álbum (com "Kriola") e Prémio da Crítica. A rapper Capicua foi distinguida com o galardão de Melhor Artista Feminina. Os Clã receberam a estatueta de Melhor Grupo. Cláudia Pascoal foi reconhecida como a Artista Revelação e a Canção do Ano foi entregue a Piruka e a Bluay com o tema 'Louco'.

Mas já vamos aos prémios porque, antes de relatar as glória dos vencedores, importa destacar um dos momentos mais emotivos e aplaudidos da gala - momento esse que foi inteiramente dedicado aos trabalhadores do setor audiovisual que continuam a lutar pela sobrevivência. O combate, que tem sido agravado pela intermitência da realização de espetáculos e eventos devido à pandemia, não foi esquecido. Antes pelo contrário. O estado debilitado da cultura na era pandémica foi lembrado praticamente por todos os que pisaram o palco da sala lisboeta. Filomena Cautela simulou como seria a transmissão da gala sem o trabalho dos técnicos de áudio, de luz e dos operadores de câmara. O momento foi para chamar a atenção da importância dos trabalhadores de bastidores mas também para enaltecer a missão da associação União Audiovisual que, de forma incansável, tem estado a ajudar os trabalhadores da área que estão a passar por dificuldades desde o início da pandemia. "Ninguém Fica Para Trás", slogan da associação solidária, foi a frase que provocou uma ovação de pé no Coliseu dos Recreios.

Vamos então às estatuetas. Somando tudo, foram atribuídos prémios em 12 categorias e, pela primeira vez na história dos prémios da música portuguesa, a Vodafone Canção do Ano teve seis nomeados. Na corrida estavam 'A Noite' (Stereossauro X Marisa Liz X Carlão), 'Assobia Para O Lado' (Carlão), 'Kriolu' (Dino D'Santiago feat. Julinho KSD), 'Louco' (Piruka feat. Bluay), 'Sei lá' (Bárbara Tinoco) e 'Tribunal'  (ProfJam, benji price).

A abertura da cerimónia ficou a cargo das mulheres. Carolina Deslandes esteve no palco acompanhada por mais onze cantoras: Bárbara Tinoco, Cláudia Pascoal, Irma, Sara Correia, Carolina Leite, Diana Castro, Inês Pires, Joana Duarte, Madalena Guedes, Rita Rocha e Rosa Antunes.

Já que falamos nelas, as mulheres, Capicua recebeu o prémio para Melhor Artista Feminina, que foi entregue pela cantora Lena D'Água (vencedora do ano passado) e pela radialista Catarina Miranda. A rapper portuense estava nomeada com Bárbara Tinoco, Carolina Deslandes e Mariza. "Ser mulher e ser artista é um desporto de combate, sobretudo nos últimos meses. Continuar a fazer música em Portugal, no contexto atual que estamos a viver, é um ato de resistência", disse a dona de "Madrepérola" que dedicou o galardão a todas as mulheres "bravas" que continuam firmes perante as adversidades.

Héber Marques, a voz dos HMB, e o apresentador e radialista Rui Maria Pêgo entregaram o prémio de Melhor Artista Masculino a Dino D' Santiago - o primeiro prémio da noite para o músico algarvio. Antes de receber a estatueta, o músico da Quarteira foi abraçar o amigo e "concorrente" Carlão que também seguia na corrida ao prémio, juntamente com Samuel Úria e Sérgio Godinho. Aproveitando o mote e o embalo, Dino D'Santiago dedicou a estatueta à União Audiovisual. O prémio para Melhor Álbum do Ano também foi para as mãos de Dino D'Santiago. O músico recebeu o segundo reconhecimento da noite com o disco "Kriola", que lançou em 2020, e dedicou o galardão ao ator Bruno Candé, assassinado em julho de 2020. Mas há mais. Dino D'Santiago também foi reconhecido com o Prémio da Crítica e comoveu a plateia com palavras dedicadas aos pais. "Estão ali duas senhoras atrás, uma guineense e outra cabo-verdiana, a torcer por mim. Estão a trabalhar nas limpezas e estão sempre à espera que eu apareça mais uma vez. São essas cenas. É bué bonito. Uma daquelas senhoras podia ser a minha mãe. Ela chegou com a mesma história. O meu pai é pedreiro. Hoje estão em casa, na Quarteira, a ver o filho a fazer história, a fazer o que mais ama", disse o músico quando recebeu a terceira glória.

Tó Trips e a designer Ângela Moura entregaram o prémio de Melhor Grupo aos veteranos Clã que, embora não estivessem presentes na cerimónia, deixaram uma mensagem em vídeo. O coletivo de "Véspera" agradeceu a honra e dedicou o prémio à equipa técnica que o acompanha na estrada. Manuela Azevedo também lembrou os trabalhadores da cultura numa altura particularmente difícil. "Que esta festa seja um lembrete a quem governa. Importa lembrar que é muito importante defender a cultura, defender quem faz a cultura e os seus trabalhadores. Importa proteger os seus direitos e garantir que a cultura portuguesa se mantém viva e com saúde", disse a cantora.
 
 

 

 

O prémio de Melhor Videoclipe foi apresentado por Augusto Fraga e Ana Rocha de Sousa. O grande vencedor foi Fernando Mamede, realizador do vídeo que ilustra o tema 'Assobia para o Lado' que Carlão lançou em março de 2020. Cláudia Pascoal foi coroada como a Artista Revelação do ano. O prémio Lusofonia foi atribuído a Emicida e Gilberto Gil com o tema 'É Tudo Para Ontem'. A fadista Sara Correia venceu na categoria de Melhor Álbum de Fado com o disco "Do Coração" e voltou a salvaguardar a urgência em defender o setor da cultura. "A cultura é muito importante. Nós não podemos estar sem música", disse a fadista quando subiu ao palco para receber a estatueta. O Melhor Álbum de Jazz foi para as mãos de André Fernandes com o disco "Dianho" e o Melhor Álbum de Música Clássica foi para "Duarte Lobo: Masses, Responsories & Motets", dos Cupertinos.
 
Um dos picos emotivos da cerimónia foi a homenagem ao fadista Carlos do Carmo, que faleceu a 1 de janeiro de 2021. O jovem fadista Buba Espinho cantou o fado 'O Que Sobrou De Um Queixume', a fadista Sara Correia interpretou 'Estranha Forma de Vida' e Cuca Roseta cantou 'Gaivota'. No final juntaram-se no palco para cantar 'Lisboa Menina e Moça'. Os três fadistas foram acompanhados à guitarra pelos músicos que testemunharam nos palcos o vasto e histórico percurso de Carlos do Carmo, os guitarristas José Manuel Neto, Marino Freitas e Carlos Manuel Proença.