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Beato chega com 'À Beira-Mar': "é um reflexo da vontade de simplificar"

Bruno Vasconcelos está de volta com Beato. 'À Beira-Mar' é o single de avanço. O disco de estreia chega em 2022.

Beato chega com 'À Beira-Mar': "é um reflexo da vontade de simplificar"
Foto Promocional Hugo Esteves


Beato - heterónimo fiel do músico Bruno Vasconcelos - chega ao panorama musical português com frescura. 'À Beira-Mar', o single de estreia editado no final do mês de maio, é a primeira faixa do disco que será lançado no início de 2022 com o selo da Valentim de Carvalho. O álbum - com letra e música de Bruno Vasconcelos - foi gravado nos estúdios de Paço de Arcos e nos Estúdios do Beato e conta com o veterano Nuno Rafael na coprodução. O disco tem ainda as percussões de Jorge Costa, a voz de Mariana Camacho, o trombone de Hugo Esteves e o cavaquinho cabo-verdiano de Romeu Ornelas.

"Beato abre assim espaço para um novo ponto de partida de Bruno Vasconcelos, que em 2013 foi nomeado para um Grammy Latino, na categoria de Melhor Álbum Pop Contemporâneo, com o seu projeto Ultraleve. Foi, também, membro fundador dos Pinto Ferreira e já colaborou com músicos e bandas como Jorge Palma, GNR, Virgem Suta, Lúcia Moniz e Flak. É produtor de Elvira, com quem está a trabalhar na preparação do disco de estreia", diz o comunicado que apresenta a nova identidade do músico e compositor português. 
   
Já sobre o disco de estreia, cujo título ainda não é conhecido, a nota de imprensa diz que é "um lugar de vários universos e influências que se materializam em canções salpicadas a pop acústico que nos transportam para uma sonoridade por vezes insular". 

E continua: "a música de Beato é uma espécie de saudade do futuro, entre a nostalgia e o optimismo, com a segurança de quem sabe que melhores dias virão e que os irá desfrutar, como um dia de praia que só termina quando o sol se põe. 'À Beira-Mar' é também sobre a vontade de embarcar numa vida mais simples, sem necessidade de colete salva-vidas; de deixar para trás o mundo complexo e real - 'Eu dava tudo para ficar aqui à beira-mar', diz Beato, mas será que o fará?" Fica a questão.

Apresentações feitas, vamos à conversa:

Já tens um caminho musical para trás. Porque é que decidiste criar agora o Beato?
 

Na verdade, Beato era para ter sido lançado mais cedo, mas, com toda esta história da pandemia, teve de ser adiado. Já tinha pensado neste projeto há algum tempo. Queria muito criar esta voz. [O Beato] não é uma personagem. É tudo menos uma personagem. É um heterónimo que representa muito bem quem sou. É muito sincero. É a minha faceta mais transparente. Acho que o Beato surgiu da necessidade de arranjar um escape, um canal para a música que estou a fazer agora e para contar histórias e descrever o dia a dia. Surgiu da necessidade de dar voz ao Bruno Vasconcelos. A primeira música que saiu [À Beira-Mar] é a mais fresca. Como estamos no verão, a decisão de ser a primeira a ser lançada foi unânime. 

Já que é um heterónimo tão próximo de quem és, como é que descreves o Beato?

Não sou muito diferente de qualquer outra pessoa. Acho que no fundo somos tão iguais quanto diferentes. Todos nós guardamos uma certa complexidade. Todos nós temos as nossas vivências e ansiedades. Temos os nossos desejos, momentos de alegria e outros de tristeza. Sou um homem com alguma experiência de vida e com algumas coisas para dizer, embora as letras do disco não tenham sido exclusivamente escritas por mim. Algumas foram uma coautoria. Quando tenho dificuldade em exteriorizar algo, mesmo que já tenha escrito parte da letra, peço a um amigo para me ajudar. É sempre uma ajuda preciosa. Tenho tido a sorte de ter excelentes letristas a colaborar comigo. [O disco] é um exercício de descrever o dia a dia de uma pessoa com a minha idade, com a minha realidade e o meu percurso. Não é um disco pretensioso. Não há propriamente um conceito alargado a todas as faixas. São canções soltas. Em relação à estética musical, acho que tentei colocar as minhas referências, o que gosto de ouvir e o que respeito musicalmente. Acabou por ser um exercício muito engraçado. Decidi que não queria meter muitos entraves ao que fosse saindo e, mesmo com toda essa liberdade, creio que há coerência no resultado. Apesar de ser um álbum com uma série de influências, percebe-se bem o fio condutor em termos sonoros. É algo evidente. É reconfortante sentir isso. Afinal não sou um caos. (risos)  

O single de apresentação - o tema 'À Beira-Mar' - é precisamente uma mistura fina dessa imensidão de influências...

Sim. Sempre gostei de misturar instrumentos. Já misturava instrumentos nos outros projetos que tive. Sempre utilizei instrumentos portugueses -a viola braguesa ou o cavaquinho têm sons lindíssimos. Também tenho sempre um ukelele em casa. Mais recentemente, graças à Mariana Camacho que participa no disco, descobri o rajão madeirense. A minha mulher é de Marrocos, por isso também tenho alguns instrumentos marroquinos. E depois uso os instrumentos mais convencionais como a guitarra elétrica ou a guitarra acústica.

A playlist do Beato 
 



E essa riqueza de instrumentos estende-se a todo o disco?

Há canções em que essa mistura está mais doseada, não está tão presente. O Nuno Rafael, que co-produziu o disco comigo, utiliza uma expressão muito engraçada para descrever o tema 'À Beira-Mar'. Diz que é qualquer coisa como "sushi meets minhotas meets não sei mais o quê". (risos) 

E as canções do disco? Já tinhas algumas guardadas?

Algumas canções já me perseguem há algum tempo e digo isto num bom sentido. Às vezes, a música sai e não temos sítio para a pôr. Quase metade do disco é composta por músicas que foram sobrevivendo à passagem do tempo, ao contrário de outras que ficaram lá atrás e não sobreviveram. As que ficaram são canções que gosto de cantarolar. São temas que fui revisitando, ao longo do tempo, com a guitarra ou com a voz. Já o 'À Beira-Mar' nasceu no ano passado e muito por causa do confinamento. A canção foi escrita no inverno de 2020. Acho que funcionou como uma escapatória. Foi feita de uma forma muito rápida - tal era o desejo de estar na praia naquela altura. (risos)         

As consequências da pandemia no setor da Cultura
 



O videoclipe que ilustra o single de avanço também transmite essa leveza de verão...

Sim. A ideia era que o vídeo fosse ao encontro dessa tal frescura. Gira à volta das personagens típicas que vemos na praia, sendo que nós também somos essas personagens. O vídeo teve a mestria do realizador Bruno Soares. Foi um dia muito divertido. Tivemos muita sorte. O dia anterior tinha sido de chuva e o dia seguinte foi de tempestade, mas nós apanhámos um belo dia de praia, à moda antiga. Foi à grande e à francesa. O vídeo foi gravado com um grupo de amigos e ainda apanhei um escaldão no nariz. (risos) 

 

 

O resto do disco segue esse ponto de partida? 

Sim. Sou eu como observador e enquanto ator [das narrativas], como a pessoa que experiencia essas vivências. Não é propriamente um disco voyeurista, de alguém que está a descrever o que observa nos outros. O 'À Beira-Mar' é um tema premeditadamente simples. O período de confinamento revelou alguns constrangimentos da vida na cidade e vimos muita gente a procurar ambientes mais naturais. Este tema é precisamente um reflexo dessa vontade de simplificar, de voltar às coisas simples. É sobre a simplicidade e o prazer de ir à praia para molhar os pés. A vida podia ser só isso. É completamente irrealista e até pode ser mal interpretado, mas o objetivo era redirecionar a vida para um estilo mais simples, mais com os pés na terra e no mar. 

Mas essa reflexão é uma consequência da pandemia ou dos 40 anos?

Tenho aprendido imenso com os mais novos sobre essa perspetiva. Numa era em que a complexidade das relações humanas é muito densa, é natural perdemo-nos. Eu às vezes perco a noção do meu papel. As coisas estão muito enrodilhadas umas nas outras. Isso acontece até em questões relacionadas com a cidadania. Acho que as pessoas sentem necessidade de voltar às coisas simples. O ritmo de vida está estupidamente acelerado. O tempo passa e nós nem sempre percebemos que o podíamos ter aproveitado de outra forma. Podia ter sido bem mais simples e tínhamos feito tudo à mesma.

O resto das canções