A cantora Britney Spears falou ontem pela primeira vez desde que decorre este processo judicial contra a tutela da sua carreira pelo seu pai, Jamie Spears, num tribunal de Los Angeles.
Num depoimento aberto ao público via Zoom, Britney Spears arrasou o controlo do seu pai sobre a sua vida durante os 13 anos da tutela, que se mantém até hoje. "Como é possível estar a ser ameaçada pelo meu pai e por qualquer pessoa ligada a esta tutela? Se eu não fizer isto que eles me dizem para fazer, para me escravizar, ameaçam punir-me".
A crítica da cantora alarga-se à família: "tendo em conta o que tem sido esta tutela, não me surpreenderia que eles dissessem: 'não achamos que isto deva acabar, temos que a ajudar'". E acrescenta que ?não é justo que estejam sempre a contar mentiras sobre mim publicamente. Mesmo na minha família, eles dão entrevistas a qualquer estação que queiram. A minha família, ao falar sobre a minha situação, faz-me sentir tão estúpida. E eu não posso dizer nada. A minha própria gente proíbe-me de dizer qualquer coisa?.
Britney Spears, que tem vivido um impasse na sua carreira (no ano de 2019, antes da pandemia, esteve totalmente parada), refere que "tem estado em negação. Tenho estado em choque. Sinto-me traumatizada. É fingir até ao limite. Mas agora estou a dizer-vos a verdade. Não estou feliz. Não consigo dormir. Estou tão revoltada que é insão. E estou deprimida. Choro todos os dias".
A cantora sentiu-se oprimida por ter que pagar da sua própria conta um programa de reabilitação de 60 mil dólares por mês, contra a sua vontade, a mando do seu pai. ?Ele adorava controlar a sua própria filha a 100%. Adorava! Tive que arrumar as minhas coisas em malas e ir para um sítio. Tive que trabalhar sete dias por semana, sem folgas, o que na Califórnia é considerado de tráfego sexual. Fez-me trabalhar contrariada, tirando-me todas as minhas posses: cartão de crédito, dinheiro, telefone, passaporte?. E acrescenta que "toda essa gente vivia comigo, os enfermeiros, a segurança noturna. Havia um cozinheiro que vinha e cozinhava para mim diariamente durante os dias úteis da semana. Eles viam-me a arranjar-me todos os dias, nua, de manhã, tarde e noite. Eu não tinha forma de me fechar no meu quarto".
Britney Spears fala em armadilhas contra si, na forma como era exposta aos paparazzi, quando cumpria os programas de terapia, durante as suas fases mais frágeis, dando a entender que se tratavam de manobras combinadas para mostrar a sua vulnerabilidade.
A cantora sente-se limitada quanto ao seu futuro, incluindo na sua vida pessoal. "Estou impedida pela tutela de me casar ou de ter um filho. Tenho um IUD (um dispositivo intrauterino contracetivo em forma de T, colocado no útero da mulher) dentro de mim, por isso não posso engravidar. Quero tirar o IUD para que eu possa ter outro bebé. Esta suposta equipa (contratada pela tutela do pai) não me deixar ir ao médico para poder retirar o IUD, porque não me deixam ter filhos nunca mais. Portanto, esta tutela está a fazer-me muito mais mal que bem".
Britney Spears manifesta um desejo: "quero a minha vida de volta. São já 13 anos. Já chega". No final, desabafou: "estou farta de estar sozinha. Mereço ter os mesmos direitos que qualquer outra pessoa: ter um filho, uma família, qualquer uma dessas coisas".
O depoimento durou 24 minutos e foi lido pela cantora a um ritmo tão acelerado que a própria juíza sentiu necessidade de interromper por mais do que uma vez, para que falasse mais lentamente para facilitar a transcrição do seu depoimento no processo.
Nas imediações do tribunal em Los Angeles, concentraram-se várias dezenas de manifestantes, pela libertação artística e pessoal de Britney Spears do controlo tutelar do seu pai Jamie Spears ? a que se refere a foto em cima.
