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António Zambujo: "este novo álbum é como um recomeço"

Entrevista ao músico bejense, a propósito do disco "Voz e Violão".

António Zambujo: "este novo álbum é como um recomeço"
Kenton Thatcher

António Zambujo lança nesta sexta-feira um álbum verdadeiramente a solo no que respeita à gravação. Intitula-se "Voz e Violão", mas nos domínios autorais, Zambujo não está sozinho e conta com os suspeitos do costume, como Pedro da Silva Martins ou Miguel Araújo, mas também do seu filho mais velho Diogo Zambujo.

Eis o que nos diz António Zambujo, aqui só com voz, sem violão.

A morte do João Gilberto e esta época longa de confinamento foram dois acontecimentos que te empurraram para um álbum com este formato de voz e violão?
Mais a morte do João Gilberto. A gravação deste álbum já estava planeada. Considero o álbum anterior "Do Avesso" um fim de linha, onde podia acrescentar músicas e arranjos para orquestra, guitarras elétricas, pianos, contrabaixos, sete músicos em palco nos concertos. Achei que era altura de fazer um reset. Esse foi o principal motivo para fazer este disco, Voz e Violão, que é como um recomeçar de novo, voltar ao início.

   

Sentiste-te demasiado sozinho a gravar este álbum?
O processo criativo do disco é sempre muito solitário e muito egoísta porque a escolha das músicas é feita exclusivamente por mim. As primeiras composições são só feitas à voz e à guitarra. Só depois é que vão sendo acrescentadas camadas às músicas. Vou pensando em acrescentar um instrumento ou um tipo de sonoridade diferente. Neste disco, voltei a fazer tudo normal, só que deixando ficar tudo como estava, sem acrescentar mais camadas.  

 

Houve alguma canção que tenhas sentido a falta de uma voz ao teu lado?
Não. Penso sempre as músicas como elas são apresentadas. Não imagino vozes, nem outras coisas. À medida que o processo vai evoluindo, vou começando a pensar de outra forma. No caso deste disco, foi fazer o mais simples possível, tocando a música pela música, sem pensar em grandes arranjos. 

Costumas alterar muito as letras que te enviam?
Não, nem por isso. Às vezes, dou uma sugestão ou outra, porque há palavras que são mais difíceis de se cantar, ou que ficam fora da métrica. Os meus parceiros de composição são pessoas com quem estou junto há muitos anos. Já fazemos música há muito tempo. Já nos conhecemos minimamente para que situações dessas sejam muito raras.

Gostas de cantar um bom palavrão como acontece neste álbum [no tema 'Sol de Azar' de Agir]?
Não faço questão, mas não bloqueio imediatamente. Se surgir, canto, como canto outra coisa qualquer. Faz parte da nossa linguagem. Gosto de dizer palavrões, isso gosto. [Na canção 'Sol de Azar' de Agir] Ele tinha "sente o teu c#" e eu pedi para alterar para "sente o teu rabo", porque achei que era demasiado.

Como é que o Caetano Veloso reagiu à tua versão de "Como 2 e 2"?
Ele ainda não ouviu. Ainda não tive oportunidade de lhe enviar. Provavelmente, no Brasil, estão com coisas mais preocupantes em que pensar. 

Quem é o Diogo Zambujo?
É o meu filho mais velho. Sempre gostou muito de música, aprendeu a tocar guitarra sozinho. É um explorador. Gosta de explorar o piano de uma forma muito intensa e sempre gostou de tocar músicas dos outros. De repente, no confinamento, surpreendeu-me com composições próprias. Mostrou-me essa música [Escutando o Universo] e eu gostei muito. Pedi-lhe autorização para gravar só e mais tarde ganhei coragem e convenci-o a cantar e tocar comigo também no disco. Felizmente, ele aceitou. 

Gostas da capa? Imagino que sim!
Gosto imenso. Aliás, foi uma sugestão minha. Pedi ao Pedro Serrazina, que foi quem fez a animação do vídeo do 'Lote B', que um frame desse vídeo fosse a imagem de capa. Ele aceitou a sugestão e felizmente conseguimos fazer como tínhamos idealizado. Gosto particularmente da imagem de estar sentado com a guitarra sem mais nada e só com aquela janelinha pequenina lá em cima. Dá uma imagem quase de solidão que acaba por retratar o que é aquele disco. É um disco muito solitário.   

 

Os músicos estão quase a voltar aos palcos. Será que vamos viver os "loucos anos 20"?
Já ouvi falar disso várias vezes, mas o meu foco é que a pandemia seja resolvida de uma vez por todas e que possamos voltar a ter uma vida normal. Depois disso, já poderei dizer melhor aquilo que poderá acontecer ou que gostava que acontecesse. Mas, neste momento, o meu foco é que as pessoas deixem de morrer da pandemia, que toda a gente seja vacinada e que possamos retomar uma vida mais normal, e, nosso caso [dos artistas], que possamos voltar a ter teatros lotados outra vez.