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Carolina Deslandes: "quero acordar as pessoas para a violência contra as mulheres"

Cantora apresenta hoje no Capitólio, em Lisboa, a curta-metragem e o EP intitulados "Mulher".

Carolina Deslandes: "quero acordar as pessoas para a violência contra as mulheres"
DR (cortesia Sons em Trânsito/Livecom)

Hoje, no Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra As Mulheres, Carolina Deslandes apresenta no Capitólio, em Lisboa, uma curta-metragem e um EP intitulados "Mulher", a partir das 20h30. 

Tal como nos diz Carolina Deslandes, "é um filme de 30 minutos, com uma equipa por trás de quase 50 pessoas". "Uma das canções tem trinta elementos da orquestra a gravar. O que vai acontecer é a projeção da curta. Vai haver um pequeno discurso em que vou agradecer quem ajudou a materializar este projeto. Quero acordar as pessoas para esta temática e que saiam dali mais informadas e, se calhar, com a vontade de ajudar. Vai falar também uma pessoa da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), que é a associação para a qual todos os bilhetes vão reverter". "A seguir vai haver um concerto em que vou tocar ao vivo as canções que fiz para a banda-sonora da curta".

 

Depois de Mercúrio, feito a meias com Jimmy P, "Mulher" é o segundo EP de Carolina Deslandes este ano. "Surgiu-me a ideia de um projeto que englobasse uma narrativa, que abordasse os pontos importantes sobre o que é ser mulher. Neste caso, foquei-me mais em Portugal, porque é a minha cultura e é aquilo que conheço. Então, decidi escrever um curta com um amigo meu, que foi ele que realizou, que é o Filipe Correia Santos. Sentámo-nos e eu disse: 'eu quero escrever uma história sobre uma mulher do interior de Portugal', que mora no país rural e que se casa, que sofre violência e que tem medo de pedir ajuda, por causa do julgamento da igreja católica e da condenação do divórcio seja por que motivo for. Mais tarde, quando tem medo de se ir embora e adormece ao lado do marido, sonha com uma outra vida, conseguindo fugir e ir para Lisboa, realizando-se profissionalmente. E conheceu um outro homem que a trata de uma forma respeitosa e afetiva. O filme é, basicamente, essa realidade paradoxal, onde não teve ferramentas para poder fugir, e noutra onde teve oportunidades que nunca tinha tido".   

 

Houve dois acontecimentos temporariamente próximos que empurraram Carolina Deslandes para este projeto "Mulher”": o confinamento por causa da pandemia do covid-19, que veio agravar a sensibilidade do problema da violência conjugal que tantas vítimas mortais e traumas tem provocado ao longo dos últimos anos, e a morte no início deste ano da sua avó. "Graças a Deus, na minha família nunca houve casos de violência doméstica - pelo menos que eu saiba. E a minha avó do lado do pai sempre foi uma grande defensora das mulheres. Quando eu era miúda, a minha avó contava-nos a nós todos no Natal a história de que foi apalpada num centro comercial e que agrediu a pessoa que tinha feito aquilo. E ensinava-nos desde miúdas que nós é que permitíamos quem é que nos tocava e que tínhamos o direito de nos revoltar. Isso deu-nos a noção muito cedo de que podiam violar a nossa liberdade, mas que nós teríamos que ter força para contrapor isso". "Anos mais tarde, quando eu tinha 18 anos, a minha avó mandou parar um táxi no Marquês de Pombal (rotunda central de Lisboa) porque uma senhora estava a ser agredida pelo namorado no meio da rua. E a minha avó foi ajudá-la, meteu-se à frente e levou também. Mandou os carros parar e salvou aquela mulher. Isso acendeu-me uma luz de que eu também podia fazer aquilo e isso foi-me incutido pela minha família". 

 

Os bilhetes para esta noite no Capitólio custam cinco euros. Tal como Carolina Deslandes nos informa, a receita da bilheteira reverte na totalidade para a UMAR.