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Carlão sobre o racismo nos Estados Unidos: "são coisas que tocam no âmago de quem sente"

O músico usou hoje a conta de Instagram para falar da questão racial nos Estados Unidos. Carlão chamou-lhe um "desabafo".

Carlão sobre o racismo nos Estados Unidos: "são coisas que tocam no âmago de quem sente"

 

Os protestos e as manifestações solidárias para com George Floyd, o homem que foi assassinado às mãos da polícia no passado dia 25, continuam nas ruas norte-americanas e nas redes sociais, um pouco por todo o mundo.

Carlão usou hoje a conta de Instagram para partilhar aquilo a que chama de "desabafo" sobre o historial de violência policial sobre a comunidade afro-americana nos Estados Unidos.  O músico explicou a razão e a pertinência da frase black lives matter [as vidas negras importam], contextualizando-a com alguns factos históricos da sociedade norte-americana.  

"Hoje sinto-me obrigado a fazer uma coisa que raramente faço, que é partilhar aqui algumas palavras com vocês. Acordei com essa necessidade. Isto tem a ver com o facto de muitas pessoas não enquadrarem bem aquilo que se está a passar. Por falta de contexto, talvez. Não sei. Quando as pessoas dizem que respondem ao black lives matter com all lives matter [todas as vidas importam] não estão a perceber bem o que é que black lives matter quer dizer. Os Estados Unidos têm raízes profundamente racistas. Foram erigidos através da mão de obra dos escravos negros (mão de obra obviamente não paga, não remunerada) que durante séculos foram tratados nem se quer como animais, porque os animais tinham mais direitos do que a população negra", começou por dizer Carlão.  

"A abolição da escravatura não tornou tudo um mar de rosas, pelo contrário. Houve muito ressentimento. De repente, as pessoas cujos impérios dependiam da mão de obra grátis dos escravos descendentes de africanos viram esses mesmos impérios a sofrer uma grande razia. A abolição da escravatura veio dar espaço a movimentos, como o Ku Klux Klan, que estavam intimamente ligados às autoridades, nomeadamente à polícia. Havia muita gente do Ku Klux Klan que fazia parte das forças policiais. Isto tudo vem de há muitos anos. Infelizmente, as autoridades norte-americanas têm uma forte ligação e uma forte toada racista que tem vindo a ser passada de pai para filho, de filho para filho e por aí fora, há séculos. (...) É das black lives que se está a falar. Não são todas as vidas que estão em perigo e que são sistematicamente violentadas e aniquiladas nos Estados Unidos. Essas vidas é que têm vindo a ser exterminadas e, muitas vezes, incriminadas sem um julgamento justo da parte dos seus pares. Pessoas que apanham prisão perpétua e pena de morte sem que haja provas para tal. A História está repleta desses casos e continua a repetir-se. Continua a acontecer e as pessoas não são responsabilizadas por isso. All lives matter? Claro que sim, sem dúvida que sim, mas estamos a falar de black lives matter porque essas vidas estão constantemente a ser desrespeitadas e violentadas", continuou o músico. 

"O que as pessoas querem é que as black lives tenham o mesmo respeito e os mesmo direitos que as outras vidas. É tão simples como isso. É muito fácil falar de fora, quando não se experiencia uma realidade daquelas. Mantenham-se informados, vão ver o que aconteceu. Vejam os números, a quantidade de pessoas assassinadas às mãos da polícia, de pessoas falsamente incriminadas. Séculos a tratar pessoas como se fossem animais. É isso que as pessoas querem parar agora. Quando se diz black lives matter é porque se está a falar das vidas negras e não das vidas todas. Essas vidas negras têm de ser protegidas e defendidas nem mais nem menos que as outras. Igualmente. É só isso. (...) São coisas que tocam no âmago de quem sente".  

Outros músicos reagiram ao vídeo de Carlão. Na parte dos comentários, Diogo Piçarra escreveu "a aula de História que todos deviamos ver". Dino D'Santiago comentou com uma palavra fraterna. "Irmão... a tua voz cura, mas cura de e com muita verdade", escreveu.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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