“A minha cadela vinha comigo para estúdio, fazia rádio comigo. Eram outros tempos!”, recorda Margarida Pinto Correia na entrevista dos 40 anos da Comercial, um sorriso de quem tem a rádio na pele. “Eu tinha uma husky, e na altura os huskys ainda não eram moda, portanto era assim uma coisa estranhíssima ver um cão com olhos azuis, com aquele ar de esquimó. E vários elementos masculinos que ainda cá andam hoje, não vou dizer nomes, vinham pedir-me a ‘loba’ emprestada porque era um bom desbloqueador de conversa”.
Em 1993, Carlos Barbosa comprou a Rádio Comercial e levou para a Rua Sampaio e Pina a equipa do antigo CMR (Correio da Manhã Rádio), ponta de lança da modernidade. Margarida Pinto Correia foi convidada para apresentar o programa da manhã e levou consigo Pedro Ribeiro para dar as notícias, Paulo Ferreira de Melo para o trânsito, Nuno Markl para jornalista das madrugadas. “Deite-se com quem quiser, mas levante-se com a Margarida” era o slogan colado nos autocarros e nos sacos do Expresso.
Superados os primeiros tempos de generation gap entre os que já lá trabalhavam no corta-cola da bobine enquanto a jovem equipa já só queria trabalhar nessa novidade que era o computador, a radialista lembra tempos muito divertidos: “Testávamos as coisas mais mirabolantes em termos de música, em termos de fórmula, em termos de misturar tudo. Era extraordinário. Eu acho que a Comercial ficou com esse ADN, talvez mais condicionados comercialmente ou financeiramente, mas hoje em dia acho que essa liberdade se mantém no ADN de todos vocês e na forma como nós ouvimos a rádio a ser inventada”.
Por mais que tenha feito televisão, imprensa ou comunicação corporativa, “cada vez que vinha à rádio, mesmo falar das campanhas da Fundação Gil, assim que punha os cascos era mesmo uma trip!”, diz Margarida Pinto Correia. Por isso, quando o João Gobern a convidou para fazer “Encontros Imediatos” na Antena 1, nem pensou duas vezes: “As pessoas perguntavam-me ‘Não tens saudades da rádio?’ Tenho imensas saudades da rádio, que aquilo é directo para a veia”.
Por Ana Martins